segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

País colheu o que Bolsonaro plantou

Os prédios que representam os três Poderes foram profanados por golpistas e vândalos, que queriam atingir a própria democracia. É preciso seguir a linha de responsabilidade pelo que aconteceu em Brasília. Se o país não apurar e punir organizadores, financiadores e autoridades coniventes continuará convivendo com episódios como os de ontem.

Foram muitos os sinais de leniência em relação aos terroristas que ontem vandalizaram prédios símbolos do poder da República. Os terroristas puderam se preparar com calma, tempo e a certeza da impunidade. Antes de tudo, é preciso ficar claro: o movimento é resultado do trabalho diário, constante durante quatro anos – e que permaneceu impune – do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele é o principal responsável pelo que aconteceu ontem em Brasília, mesmo estando, covardemente, a 6.100 quilômetros da capital brasileira.

O governo do Distrito Federal é conivente com o que aconteceu e uma das provas mais evidentes disso é ter nomeado Anderson Torres como secretário de Segurança, após todas as demonstrações que ele deu como ministro da Justiça de ser um leal servidor do bolsonarismo. As declarações do governador Ibaneis Rocha de ontem foram apenas uma forma de tentar se blindar. Ele poderia e deveria ter protegido a capital dos terroristas que começaram a desembarcar no sábado na cidade.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, dissolveu todos os grupos nas procuradorias que atuavam no combate aos atos antidemocráticos e o fez em novembro, quando o país já vivia a tensão do golpismo. O ministro da Defesa, José Múcio, minimizou a movimentação dos golpistas em frente aos quartéis, disse que tinha “parentes e amigos” nos acampamentos, que os extremistas eram “casos isolados” e avaliou que o movimento ia “se esvair”. No caso de José Múcio, ele deveria vir a público dizer que se enganou na sua avaliação. No mínimo.

O país colheu nesse domingo amargo o que Bolsonaro plantou. Ele plantou o golpismo. O presidente da Câmara, Arthur Lira, o protegeu, engavetando todos os pedidos de abertura de processo de impeachment. O procurador-geral da República, Augusto Aras, o protegeu impedindo todas as ações contra ele. Os comandantes militares que acabaram de deixar os postos passaram sinais aos manifestantes, quando demonstraram falta de respeito ao comando hierárquico do presidente Lula. Empresários financiaram os atos no Brasil todo e até agora não foram identificados e responsabilizados. Tudo isso somado alimentou o golpismo. A única forma de combatê-lo é punir, e não apenas as centenas de pessoas presas em flagrante.

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