“O respeito do povo americano por seus militares está despencando. Caiu 22 pontos percentuais nos últimos cinco anos, segundo pesquisas realizadas pela Fundação Reagan”. O texto acima está no artigo “Don’t drag military into politics”, da analista Kori Schake, publicado no site War on the Rocks. Traz um alerta sobre o perigo de envolver militares nas disputas políticas partidárias.
Kori é do Instituto Hoover da Universidade Stanford. Já trabalhou nos departamentos de Defesa e de Estado, foi diretora de estratégia e requisitos de defesa no National Security Council (NSC) e ocupou a cadeira em estudos de segurança internacional de West Point.
Não é um comentário amador, feito por pseudoanalista de Google em busca de likes. Está fundamentado em experiências pretéritas que devem ser avaliadas pelas lideranças americanas neste momento de tamanha divisão em sua sociedade.
Segundo a articulista, e com base na última pesquisa daquela fundação, mais de 60% dos entrevistados disseram que perderam a confiança em suas Forças Armadas porque a liderança militar se tornou excessivamente politizada.
Vaticina Kori que a América, para ter uma força de combate eficaz, precisará corrigir essa percepção pública, isolar os militares, impedindo-os de ser peões em disputas partidárias.
Ela não aponta o dedo seletivamente. A mira de sua metralhadora enquadra opiniões nos extremos da discussão acadêmica e ideológica.
Dos militares, defende que devem lutar para manter as principais funções da profissão perante o Estado — representativa, consultiva e executiva —, esquivando-se das pendengas políticas.
Dos congressistas, critica a postura de se camuflarem atrás dos uniformes (ainda respeitados apesar da queda de confiança) para promulgar políticas impopulares, mesmo as relacionadas aos casos mais relevantes de segurança nacional.
A pesquisa não combina com a avaliação interna dos militares quanto a seu papel. Eles acreditam que são modelos de profissionalismo, apartidários e, consoante com a narrativa, trabalham para massificar essa atitude por meio de uma educação militar estritamente profissional.
Ainda assim, as lideranças castrenses estão preocupadas com o ativismo político dos veteranos, que vem se avolumando e se refletindo sobre a força em serviço ativo.
Lembra a pesquisadora que o endosso dos veteranos aos candidatos presidenciais tem sido uma verdadeira corrida militarista, desde que o ex-comandante da Marinha Paul Kelley apoiou o ex-presidente George H.W. Bush em 1988.
Destaca que os ex-presidentes Barack Obama e Donald Trump nomearam veteranos para altos cargos civis. E que o presidente Joe Biden indicou o general da reserva Lloyd Austin, há pouco aposentado, para o delicado cargo de secretário de Defesa.
Hoje, os comitês eleitorais republicanos ou democratas divulgam ruidosamente listas com nomes de oficiais aposentados de altas patentes que os apoiam vibrantemente e incluem imagens de militares uniformizados em anúncios de campanha. Como elixir, ela exorta os congressistas americanos a resistir à tentação de chamar para dançar a música da política o desengonçado estamento militar, um amador nesse salão de baile.
Kori conclui que a esmagadora maioria dos militares americanos está implorando para ser deixada fora da política pantanosa.
Eles querem o devido reconhecimento por defenderem o povo e seus interesses, a soberania dos Estados Unidos, os valores da cultura americana. Não é pouco.
Num exercício de imaginação, próximo da realidade contemporânea, se o artigo da professora descrevesse outros países, revelaria o mesmo dilema da mistura entre o profissionalismo militar e as artimanhas políticas, variando a intensidade conforme a democracia estivesse mais ou menos madura nessas sociedades.
Para o bem dos países que se vestem da normalidade institucional, a sociedade, os políticos e os militares devem prestar atenção aos apelos da professora doutora Kori Schake. Ela sabe o que diz.
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