sexta-feira, 21 de outubro de 2022

O apagão da ‘Política’

As eleições costumavam ser um momento de debater visões e projetos em todos os lugares. Era como uma Copa da cidadania. Enquanto os candidatos cumpriam seus roteiros, suas equipes discutiam temas específicos com os setores da sociedade.

Havia debates entre futuros ministros da economia, da educação etc. A discussão rolava nas universidades, empresas, entidades setoriais, rádios locais, escolas, fosse no campo ou na cidade. Era frequente o debate acontecer entre eleitores comuns, sobre os programas dos candidatos (até mesmo nas residências).


Colando da web, a Política é justamente essa “atividade dos cidadãos quando se dedicam aos assuntos públicos com seu trabalho, sua militância ou seu voto”.

Sendo assim, vale indagar se um indeciso consegue hoje identificar num debate de TV o candidato mais preparado para ‘se dedicar aos assuntos públicos’ em 2023. Num primeiro olhar, a agressividade superficial está tão abundante, de parte a parte, que pode distrair o eleitor das questões primordiais.

E não é por falta de assunto, em tempos de emergência climática, guerra na Europa, tensões geopolíticas, crime organizado, desigualdade social, atraso econômico, retrocesso democrático, crise energética, degradação do Estado.

Não se vê uma análise de conjuntura, de contexto, menos ainda de tendências, como era comum no passado. Nos últimos 15 anos, os partidos e a sociedade como um todo se permitiram um apagão político, mostrando desinteresse em ideias, história, utopias ou planos futuros.

Bolsonaro e Lula entendem que o povo já os conhece, dispensando apresentações de programas de governo. No entanto, se os problemas evoluem junto com o cenário, não seria obvio que as soluções também fossem outras?

O diálogo precarizou-se. A estratégia deu lugar à tática frívola. Onde havia militantes, vemos fãs e seguidores. A opinião deu vez ao like e à fake news. Trocamos as lideranças por influencers. O twiter substituiu os movimentos sociais. A política virou reality show. A camisa da CBF é figurino político.

Enquanto isso, 60% dos brasileiros acham importante a religião do candidato. Porém, às vésperas da eleição 70% das pessoas não tinham candidato a deputado e mais da metade nem se lembra em quem votou no pleito passado.

A boa notícia é que a polarização passional nas eleições deste ano trouxe a política de volta às rodas de conversa, às discussões setoriais e às ruas.

Contudo, dessa vez, não bastará o novo governo “consultar a população pelas redes sociais”. Tampouco poderemos nos iludir de que “não precisamos mais de movimentos populares porque o povo está no governo”.

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