A campanha eleitoral antecipa o desafio que o jornalismo terá pela frente numa disputa que se anuncia marcada pelo desrespeito às regras e pela desinformação. Como, na verdade, já aconteceu na eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018. Kit gay, orgias, Ursal… que fake news teremos de desmentir?
Cobrir, fiscalizar e denunciar aparecem entre as atribuições do jornalismo. O exercício da atividade se dá com base em valores e num código de ética profissional. O respeito aos fatos, a obrigação de checar todos os lados da notícia. O avanço das redes sociais, no entanto, permite a comunicação direta com o público, sem a intermediação das mídias tradicionais, jornais e revistas, rádios e TVs. Nas redes não há condutas definidas — minha casa, minhas regras; não há compromisso de ouvir qualquer outro lado. Na campanha difamatória, nem sequer se encontrará o emissor, o responsável, escondido atrás de perfis falsos e robôs.
No jornalismo profissional existem inúmeras iniciativas para conter a enxurrada de notícias falsas. A Agência Lupa, o consórcio Fato ou Fake, projetos como o Comprova, Verifica e muitos outros, que, na pandemia, ajudaram a salvar vidas.
O alcance das notícias falsas, porém, é enorme — e a resposta é quase sempre reativa, quando as mentiras já se espalharam pelas redes sociais. É preciso que o esforço não se resuma aos compromissos do jornalismo profissional, mas envolva toda a sociedade. Essa é a proposta de iniciativas como a Rede Nacional de Combate à Desinformação, que conquista adesões nas universidades, centros de pesquisa e instituições com responsabilidade social. De todas as áreas, medicina, engenharia, Direito, filosofia…
O que nos leva a Portugal. Lá, os partidos democráticos, de direita ou esquerda, se uniram numa iniciativa republicana no Parlamento: repudiam, denunciam e neutralizam qualquer ato, discurso ou proposta que propague mentiras, ameaças à democracia ou defendam ações criminosas de qualquer tipo. A ação se tornou conhecida como “cordão sanitário” — na epidemiologia, uma barreira criada para impedir a proliferação de agente infeccioso. Nenhum ataque que possa representar crime fica sem resposta.
O desafio da sociedade é que empresas, entidades e organizações afirmem seu compromisso ético com a informação, como um direito de todo cidadão, sem o qual será impossível formar juízo sobre qualquer tema e escolher livre e conscientemente o destino do país. Vale para igrejas, empresas, instituições, times de futebol, todas as representações que contam com mídias próprias e devem afirmar seu valores. O pacto com a democracia é a melhor vacina.
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