segunda-feira, 25 de abril de 2022

Generais e Bolsonaro, a pior ameaça ao Brasil

Cada vez mais se estreita a aliança entre as Forças Armadas e o atual presidente da República. Esse elo é a mais séria ameaça a nossas instituições e a nossa democracia. Esse tal Daniel Silveira, deputado desordeiro, golpista, ofensivo e brutamontes condenado pelo Supremo a oito anos de prisão por querer “a cabeça de ovo do Alexandre de Moraes numa lixeira”, não passa de mero figurante. Tão ridículo que fez rir a vice-procuradora-geral da República ao ler suas ameaças. 

Daniel Silveira é a cópia marombada do amigo Eduardo Bolsonaro – o mesmo que ironizou a tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão, dizendo ter “pena da cobra”. Nada do que Daniel pensa e faz é diferente do que pensam e fazem o presidente e seus filhos. Quebrar a placa da Marielle. Elogiar o AI-5. Recusar máscaras e tornozeleira. Ofender policiais mulheres. Exigir destituição dos ministros do STF. Tudo mais do mesmo. 


A diferença entre Daniel Silveira e Jair Bolsonaro é o grau de ameaças a Alexandre de Moraes, inimigo público de ambos. O deputado foi condenado não por chamar o juiz de “marginal”, mas porque o ameaçou fisicamente. O presidente exige o impeachment do juiz e não cessa de provocá-lo: “O Alexandre de Moraes falou que quem desconfiar do processo eleitoral vai ser cassado e preso. Ô Alexandre, eu tô desconfiado. Vai me prender? Vai cassar meu registro?” 

Onde? Em que país minimamente civilizado um presidente eleito destrata dessa maneira um ministro do Supremo que nem o ameaçou de nada? Alexandre de Moraes vai comandar a Justiça Eleitoral na campanha. A democracia comporta essa falta de decoro e compostura? Eu sei, decoro e compostura inexistem na casa dos Bolsonaro. Os filhos foram deseducados assim. É um tabefe na cara das famílias brasileiras essa grosseria cotidiana. 

Mas o tabefe virou soco na última semana. Uma luz amarela acendeu no país. Revelados pelo GLOBO, os áudios comprovando que o Superior Tribunal Militar conhecia e discutia as torturas e sevícias a presos na ditadura – sem poupar as grávidas – foram uma viagem dolorosa na máquina do tempo. O Brasil ainda estava chocado com os áudios quando levou outra paulada: a indiferença, a ironia, a crueldade, o escárnio, a ignorância de nossos militares diante desse resgate histórico. 

Se algo ficou claro com a falta de arrependimento e empatia dos generais, é que não deveriam ter sido anistiados. Mas o buraco atual é mais em cima. Não são livros de armas de fogo ou deputados de baixa estirpe que devem nos atemorizar. A ameaça vem da comunhão entre as Forças Armadas e Bolsonaro. Todos fãs explícitos de torturadores como o coronel Brilhante Ustra. Entre imunidade e impunidade, não é só uma letra que faz a diferença.

Faz dois anos já. Publiquei aqui a coluna “Bolsonaro fala uma verdade”. Escrevi. 

As Forças Armadas estão sim com ele. Os militares o apoiam. Não em bloco uníssono. E não em todas as barbaridades. Mas na essência. Os militares do Planalto estão inebriados com o poder e com a revisão histórica do golpe de 1964 e da ditadura. Só ingênuos insistirão na tese de que os generais podem puxar o tapete vermelho de um capitão inculto, indisciplinado e autoritário ao extremo. Eles se usam mutuamente. De autoridade os militares entendem. De alinhamento total, também. Detestam que os outros poderes não batam continência para eles. 
Isso publiquei em maio de 2020.

Quanta responsabilidade temos todos em 2022. Nós e nossos filhos. Obrigada, Míriam.
Ruth de Aquino 

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