É difícil aqui fugir ao conselho, algo acaciano, de Aristóteles, segundo o qual a virtude está no meio. Não podemos nem ser tão moralistas que não consigamos construir soluções negociadas, nem tão relativistas que não reconheçamos qualquer hierarquia nos valores. O Brasil vem fracassando miseravelmente nessa busca pelo equilíbrio.
Jair Bolsonaro jamais deveria ter sido eleito presidente. O fato de isso ter ocorrido, porém, faz parte dos riscos inafastáveis da democracia. De vez em quando, o eleitorado elege um completo despreparado. Tem até algum efeito didático, já que ensina que, embora votos individuais tenham peso irrisório num pleito, as escolhas coletivas fazem enorme diferença.
Nossa grande falha moral foi não ter submetido Bolsonaro a um impeachment, mesmo depois de ele ter jogado contra o país na pandemia e ter repetidamente ameaçado as instituições. Separadas, cada uma dessas situações já teria justificado a destituição; juntas, num universo decente, elas a tornariam obrigatória. O Congresso, porém, preferiu fechar os olhos para as transgressões do presidente.
Apesar disso, minorias de parlamentares ainda conseguiam esboçar algum tipo de reação. Vimos isso na CPI da Covid. Mas, agora que Bolsonaro se deu para o centrão, a minoria não consegue mais nem criar uma CPI. Assinaturas são, sabe-se lá por quais mecanismos, retiradas. E Bolsonaro ainda mostra fôlego nas pesquisas. Definitivamente, estamos nos tornando um país de cínicos, daqueles que sabem o preço de tudo e o valor de nada.
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