sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

O Brasil dá aflição

O Brasil dá aflição. Falta dinheiro para muita coisa importante, mas às vezes há dinheiro, que os governos não sabem gastar. Foi isso que aconteceu em Ouro Preto, onde o deslizamento de uma encosta destruiu um edifício tombado pelo patrimônio histórico (foto).

Dez anos atrás, o governo de Minas Gerais captou nada menos que 35 milhões de reais para um programa de contenção de encostas em Ouro Preto. Mas o programa ficou empacado, por requerer técnicas especiais de sondagem do terreno, até que um desastre aconteceu.


Em 2019, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mediu a eficiência dos gastos públicos na América Latina. Descobriu que o Brasil desperdiça quase 4% do PIB ao ano em projetos mal concebidos e mal executados, que ficam pela metade, atrasam ou não entregam o que se esperava. São os célebres “problemas de gestão”.

Gestores ineptos, que não sabem nem por onde começar o emprego dos recursos disponíveis, têm um papel de destaque nessa história. Segundo o BID, o Brasil deixa de gastar, em média, nos diversos níveis de governo, metade do dinheiro aprovado para investimentos.

Em 2020, o governo Bolsonaro deixou no cofre 80,7 bilhões de reais reservados para o combate à Covid. No mesmo ano, o Ministério da Educação devolveu 1 bilhão de reais aos cofres públicos, porque não soube o que fazer com eles. Como se não houvesse carências na educação brasileira.

O padre Vieira já sabia que esse tipo de omissão produz desastres, como os de Ouro Preto ou da pandemia. Diz o seu Sermão da Primeira Dominga do Advento: “Está o príncipe, está o ministro divertido, sem fazer má obra, sem dizer má palavra, sem ter mau nem bom pensamento. E talvez naquela mesma hora, por culpa de uma omissão, está cometendo maiores danos, maiores estragos, maiores destruições, que todos os malfeitores do mundo em muitos anos.” O texto é de 1650.

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