Em 2017, o então prefeito da cidade de São Paulo, João Doria Jr, chegou a suscitar mudar o regime de alimentação escolar das crianças paulistas que naquele período comiam alimentos orgânicos, boa parte proveniente de produção agroecológica, da agricultura familiar, para o oferecer a Farinata, um lixo superprocessado, sem nutrientes vivos, que mais lembrava ração de cachorro.
Quatro anos depois, em plena pandemia, quando já morrera mais de 500 mil pessoas neste país, a população brasileira é obrigada a ouvir dos dois principais ministros deste governo genocida, Paulo Guedes e Tereza Cristina, que a solução pra fome no Brasil é mudar os critérios de vencimento dos alimentos nas prateleiras. Onde vamos parar?
Primeiro é importante ressaltar que alimento de prateleira é aquele que já possui um nível inferior de nutrientes, muitos deles produzidos com as commodities do agronegócio num processo intenso de industrialização, que praticamente elimina a energia vital do que vem da terra. A população precisa mesmo é de alimento saudável, de gôndola de feira, nutritivo, natural e que tenha sido produzido sem as exorbitantes quantidades de agrotóxicos que o agronegócio, em consórcio com as grandes transnacionais enfiam no nosso prato de comida sem nenhuma vergonha.
Recentemente o IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor), em pesquisa, apontou a existência de glifosato nos alimento superprocessados das prateleiras. Ou seja, além de serem ricos em açúcar, sal e carboidratos simples, ainda possuem resíduo de um veneno que é relacionado a carcinogenidade no mundo inteiro, responsável pela crise da Monsanto que está tendo que pagar bilhões de dólares aos usuários que adoeceram em diversos lugares do mundo. Vejam que ironia: nesse ínterim, a Monsanto foi comprada pela Bayer, enquanto uma adoece, a outra oferece o “remédio”. É a promiscuidade da indústria química no Brasil brincando com a saúde e com a vida dos brasileiros!
O nosso país já vive uma pandemia grave de saúde por conta de hábitos alimentares mal estimulados pela grande indústria. Se retirou o alimento fresco pra inserir o superprocessado, muito por conta da falta de tempo das famílias em relação ao preparo das refeições. Vivemos a geração do fast-food, a mesma com diversas comorbidades crônicas, como a pressão alta, diabetes, baixa imunidade, isso pra não citar os casos mais graves. Os superprocessados não são alimentos, são fórmulas alimentares, que imitam sabores reais com aditivos, como conservantes e corantes que impregnam no nosso corpo afetando nossa saúde a médio e longo prazo.
É preciso dizer que a saída pra enfrentar a fome não é oferecer lixo vencido aos brasileiros. A saída é vacinar a população contra o vírus, tirar esse governo genocida feito de lobistas, retomar a democracia e taxar os agrotóxicos, que são os responsáveis pelas externalidades ambientais tão graves que estamos vivendo. É preciso criar fundos para a agroecologia e dar condições do povo se alimentar com comida fresquinha, produzida na roça, em circuitos curtos de produção, relembrar os aromas e sabores da nossa cultura alimentar, estimulando a agricultura familiar a produzir alimentos saudáveis.
A agroecologia é forma de se produzir alimentos em consonância com a sustentabilidade ambiental. Através do consórcio de árvores com espécies agrícolas, como leguminosas, hortaliças, frutíferas e até animais, é possível reconfigurar o sistema agrícola e a paisagem, preservando também os bens comuns da natureza, como a água, equacionando a questão climática.
Porém, só se faz agroecologia com terra partilhada, não é possível fazer agroecologia em grandes extensões de terras concentradas, com monocultura. A pauta da Reforma Agrária nunca foi tão necessária como nos tempos de hoje. A fome que está assolando o país nos grandes centros urbanos pode ser revertida com a massificação da agricultura periurbanas, dando oportunidade ao próprio povo plantar, se alimentar por suas próprias mãos e reconfigurar a economia com desenvolvimento local.
Carla Bueno
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