segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Tempos de barbárie

É inquestionável: a modernização melhorou a base material da civilização, mas contribuiu para melhorar as dimensões morais e éticas da Humanidade? A resposta é não. E a argumentação leva em conta o que o professor Samuel Huntington, de Harvard, chama de “paradigma do caos”. Estados fracassados, anarquia, repulsa aos princípios democráticos, inclusive nas maiores democracias mundiais, quebra da lei e da ordem, ondas de criminalidade, cartéis de drogas, deterioração dos valores da família e assim por diante.

O caos se instala sob sistemas democráticos em momentos de tensão e risco, e ante a frustração da regra fundamental para a convivialidade planetária: uma civilização que se esforce para buscar e consolidar valores comuns a todas as civilizações. Tarefa distante pela diferença entre Nações, Ocidente e Oriente, muçulmanos, cristãos, ateus, enfim, todos os povos deste planeta. Não existiria um aspecto que pudesse transcender vontades individuais e agregar interesses em todas as culturas?

Difícil. Mas sem isso estaremos cada vez mais corroendo a vida humana, projeção que pode até ser entendida como catastrofista. Mas não estamos vendo a catástrofe, quando constatamos mais de 2 milhões de mortos pela Covid-19?


O fato é que ressurge a barbárie, paisagem mais agressiva que a dos filmes do velho oeste americano. A paisagem de hoje é de barbárie. As democracias – governo do povo pelo povo e para o povo – estão sendo corroídas por dentro, usando-se dribles legais em nome da Constituição, falsidades, mentiras repetidas à exaustão.

O que ocorreu nos EUA, com Donald Trump, ocorre em muitas Nações e também aqui, como se viu nesta preciosa pérola sobre democracia, do dicionário do nosso governante-mor: “Quem decide se o povo vai viver democracia são as Forças Armadas”. Um libelo contra a democracia na índole autoritária do Chefe de Estado.

Imagine-se então o modo de vida do amanhã do planeta quando a pandemia escancarar o rombo de cerca de US$ 12 trilhões na produção econômica global, tirando o Brasil do ranking das 10 maiores economias mundiais. A pobreza aumentará, como em nosso país, que tem 50 milhões abaixo da linha da pobreza, os EUA, com 25 milhões e a Europa com 70 milhões.

A tendência é de tentar salvar as economias, ampliar o cobertor social, salvaguardar seus Tesouros, apesar de os Estados Unidos de Joe Biden anunciarem políticas abertas aos imigrantes, respeito à pluralidade, defesa do meio ambiente. Grupos do nacional-populismo deverão fazer pressões em sentido contrário.

É possível que a China se transforme na maior potência econômica nos próximos anos, o que conduz a outra hipótese: as democracias terão de mudar posturas, flexibilizar políticas, banir preconceitos sob o pragmatismo dos mercados. E a evitar as ameaças que, segundo o Relógio do Juízo Final (criado em 1947 por cientistas atômicos), pairam sobre nossas cabeças: avanços russos, americanos e chineses em mísseis hipersônicos, o desmantelamento do acordo nuclear iraniano e o risco de guerra com os EUA, novos armamentos da Coreia do Norte e a Guerra Fria 2.0 entre Pequim e Washington.

Que os ponteiros do Relógio nos afastem do Juízo Final.
Gaudêncio Torquato

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