No Brasil, tudo se engessa com o tempo, nada se molda a ele. O Brasil é um lugar espetado no tempo, rígido, imóvel.
Dia desses, instigada por algo que alguém escreveu nas redes, fiquei pensando no glossário dos economistas brasileiros — os que têm colunas em jornais de grande circulação. Hoje não há ninguém que escreva nessas publicações e não gaste linhas falando em “responsabilidade fiscal”, “manter o teto de gastos”, “reformas”, “déficit fiscal”, “dívida pública elevada”, “riscos inflacionários”, “confiança”, “expectativa”. Trata-se de uma liturgia da mesmice. Veio-me à mente o Teorema do macaco infinito. Sabem qual é? Aquele que diz que um macaco que tecle de modo aleatório por um período infinito de tempo quase certamente produzirá qualquer tipo de texto, até as obras completas de Shakespeare. Acham inverossímil? Pois o teorema possui prova matemática.
Não vou tentar provar matematicamente o Teorema do economista infinito nessa coluna pois faltará espaço — afinal, disponho de pouco mais de 4 mil caracteres com espaços. Mas insistirei, para quem ainda tiver paciência, que leia o óbvio pela enésima vez. O Brasil atravessa o pior momento da pandemia. Sistemas de saúde estão colapsando em vários estados do país. As mortes se amontoam e variantes mais transmissíveis do vírus circulam sem qualquer tentativa de contê-las. Há, portanto, uma calamidade. O óbvio seria decretar estado de calamidade. Com tal decreto em mãos, novas quarentenas seriam instituídas em diversas localidades país afora. Recursos seriam destinados para a Saúde com maior liberdade, já que, com o decreto, o teto de gastos estaria suspenso. As medidas econômicas para apoiar as de saúde pública, como a ressurreição do auxílio emergencial, poderiam ser adotadas. Desse modo, teríamos alguma chance de evitar o colapso tal como conseguimos fazer no ano passado, e lembro que a queda do PIB provavelmente será bem menor do que se imaginava por causa do auxílio emergencial.
Contudo, acredito que não faremos nada disso. Acredito que, por ora, o Brasil espetado no tempo é compatível tão somente com o Teorema do economista infinito. A vantagem? O Teorema do economista infinito, no futuro, não vai requerer uma equação sequer. Sua prova estará na catástrofe brasileira.
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