Em razão disso, decidi não assistir aos telejornais na mesma intensidade de tempos atrás. Eu os via a quase todos. Hoje, elejo aquele que melhor se adéqua às minhas tarefas diárias, sem fixar-me especialmente em nenhum. Tiro minhas conclusões solitárias e, em consequência, evito a estafa emocional que me tomava rotineiramente ao final de cada jornada de notícias.
Os telejornais mudaram, são repetitivos, a mesma matéria percorre toda a programação -, são maçantes – focam exaustivamente um tema -, são emocionais em demasia, algumas vezes apelativos.
Tenho optado pela leitura diária de jornais e revistas nos quais, na minha opinião, os articulistas têm mais tempo para pensar sobre o que escrevem, buscar informações junto às fontes e avaliar os reflexos da notícia para, só então, publicá-las.
Ainda assim, recentemente, assisti a um telejornal com desolação. Apresentava uma reportagem tratando das afrontas às regras do distanciamento social e dos cuidados sanitários individuais, que tinha como pano de fundo convencer ao seu público sobre a periculosidade da praga do coronavírus.
Uma enorme aglomeração, regada a música rave e bebidas diversas, demonstrações de alpinismo em teto de carro e competição de quem “detona” mais rápido os pneus de suas pequenas motos, possivelmente usadas em trabalhos de delivery.
O que pensar? O que dizer. São malucos incorrigíveis ou têm o direito de agir dessa maneira?
O escritor angolano, José Eduardo Agualusa, em sua crônica do sábado no jornal O Globo, referiu-se deste modo aos direitos individuais: “o livre arbítrio, ou seja, a liberdade, não é uma dádiva de Deus, mas uma conquista dos homens”.
Sendo uma conquista, exigiu esforço para tê-la e merece esforço para mantê-la. Por que deixá-la esvair-se entre os dedos?
Portanto, é merecido reforçar. Se sofremos, a culpa é de todos que acoitamos o ilegal. Se eles, os amorais e insensatos, estão ultrapassando o nosso espaço vital, que se reclame, se conteste e até se busque o tribunal. A princípio, ao pé de ouvido, ao fim, aos gritos: não me ofendas, para não seres ofendido.
Otávio Santana do Rêgo Barros, general do Exército e ex-porta-voz da presidência da República
Sendo uma conquista, exigiu esforço para tê-la e merece esforço para mantê-la. Por que deixá-la esvair-se entre os dedos?
A sociedade precisa respirar equilíbrio e bom senso. Respeitar o direito do beltrano e do sicrano, para ter o seu respeitado. Carece de compreender o que é o “livre arbítrio”.
Por exemplo, nesse tempo de coronavírus, que uma pessoa não queira se vacinar; que uma pessoa deseje tomar remédios não comprovados cientificamente; que uma pessoa não utilize as máscaras protetoras; que uma pessoa promova aglomerações; que uma pessoa burle a fila para vacinar-se antes, tudo é liberdade, ainda que usada de forma equivocada e até impiedosa.
Uma parcela majoritária de autoridades políticas, jurídicas, científicas, a imprensa e a sociedade em geral advogam em contra essas posturas. Defende, e eu defendo, que você se proteja para proteger os outros.
Entramos aqui, a meu ver, no terreno da legalidade e da moralidade. “A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem”. Tese defendida por Montesquieu, ilumina a necessidade de exercer controle dos ilegais, sob as barras da justiça dos legais.
Como fazê-lo diante de um mundo tão maniqueísta e distópico? O filósofo ainda professava na mesma linha: “se os bem-aventurados não fossem livres para pecar, nem os danados para fazer o bem, de que adiantariam castigos e recompensas?”
Somos livres para pecar e fazer o bem. Quem decide somos nós. E somente nosso é o ônus ou o bônus da nossa decisão. Entretanto, relembrando o Tratado da Tolerância, não se deve fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem a nós.
Por exemplo, nesse tempo de coronavírus, que uma pessoa não queira se vacinar; que uma pessoa deseje tomar remédios não comprovados cientificamente; que uma pessoa não utilize as máscaras protetoras; que uma pessoa promova aglomerações; que uma pessoa burle a fila para vacinar-se antes, tudo é liberdade, ainda que usada de forma equivocada e até impiedosa.
Uma parcela majoritária de autoridades políticas, jurídicas, científicas, a imprensa e a sociedade em geral advogam em contra essas posturas. Defende, e eu defendo, que você se proteja para proteger os outros.
Entramos aqui, a meu ver, no terreno da legalidade e da moralidade. “A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem”. Tese defendida por Montesquieu, ilumina a necessidade de exercer controle dos ilegais, sob as barras da justiça dos legais.
Como fazê-lo diante de um mundo tão maniqueísta e distópico? O filósofo ainda professava na mesma linha: “se os bem-aventurados não fossem livres para pecar, nem os danados para fazer o bem, de que adiantariam castigos e recompensas?”
Somos livres para pecar e fazer o bem. Quem decide somos nós. E somente nosso é o ônus ou o bônus da nossa decisão. Entretanto, relembrando o Tratado da Tolerância, não se deve fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem a nós.
Portanto, é merecido reforçar. Se sofremos, a culpa é de todos que acoitamos o ilegal. Se eles, os amorais e insensatos, estão ultrapassando o nosso espaço vital, que se reclame, se conteste e até se busque o tribunal. A princípio, ao pé de ouvido, ao fim, aos gritos: não me ofendas, para não seres ofendido.
Otávio Santana do Rêgo Barros, general do Exército e ex-porta-voz da presidência da República
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