Pelas contas que os principais candidatos fazem, Pacheco tem vantagem entre seis e sete votos contra Simone Tebet (MDB-MS). Na Câmara, Lira e o opositor Baleia Rossi (MDB-SP) somam mais apoios do que o colégio eleitoral de 513 deputados. Até aí, nada de novo. Sempre é assim: os postulantes contabilizam as traições que o voto secreto estimula.
A existência de um nome governista também faz parte do jogo. A diferença é que desta vez o que está em juízo é o governo Bolsonaro e todo o seu descaso e incompetência para lidar com as crises sanitária, econômica e social.
Bem-apessoado, Pacheco até impressiona com o seu discurso contra extremismos. De um lado acena aos investigados pela Lava-Jato que considera a operação abusiva; por outro, discorda da ampliação da posse de armas, menina dos olhos de Bolsonaro. Mas arrepia até o último fio de cabelo ao dizer que se sente honrado com o apoio do presidente.
Honra de quê? De ter a simpatia de alguém que desonra o país?
E vai além. Diz que os erros do governo na pandemia são “escusáveis”. Ou seja, de antemão, desculpa Bolsonaro pelo incentivo que faz ao tratamento preventivo inexistente para conseguir desovar os milhões de comprimidos de cloroquina que mandou o Exército produzir, que lida com a dor e a morte de milhares com um “e daí?” e considera o Brasil “um país de maricas” acovardados pelo vírus.
Difícil explicar ao eleitor do PT que seu partido apoiará um candidato que se sente honrado com o apoio de Bolsonaro. Se Pacheco vencer, os 6 senadores do PT, alguns do PSDB e do PDT que não se posicionaram publicamente em favor de Tebet, terão sido decisivos para o que pode vir a ser a primeira vitória política do presidente.
Lira é afável e tem feito discursos sob encomenda em cada um dos estados que visita. Em parte deles, evita falar explicitamente do apoio de Bolsonaro, na tentativa de aliciar votos de parlamentares à esquerda. Nessa toada, já conta com dissidências do PSB, incentivado pelo recém-eleito prefeito de Recife, João Campos.
A seu favor, Lira terá ainda a candidatura de Luiza Erundina (PSOL-SP), jogada na disputa para marcar posição. Mais uma vez o PSOL parece ou finge não compreender que a posição fundamental é a de impedir que Bolsonaro vença.
Parlamentares que já declararam apoio a Lira e a Pacheco tentam desvincular a eleição das casas legislativas do Executivo. Uma tarefa impossível por não ter correspondência com a realidade. Na Câmara, o deputado que não abre o voto em Lira vai para o fim da fila na liberação de emendas parlamentares obrigatórias. Se indicou alguém para cargo no governo, ainda que de vigésimo escalão, tem sido notificado da demissão sumária, mesmo quando se trata de quadro técnico competente.
Os métodos são espúrios e a causa degradante.
Longe de ter em vista o país, as angústias de seus cidadãos, as reformas inadiáveis, Bolsonaro quer vencer para proteger a si e aos seus, afastar o fantasma do impeachment - cada vez mais prestes a encarnar - e dar guarida aos filhos Flávio e Eduardo.
Há grita pelo impedimento do presidente e seis dezenas de requisições para tal, ignoradas pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sob o argumento da falta de condições políticas para aceitá-las. O caldo para a cassação engrossou com o flagelo de Manaus e a incúria no trato com a pandemia, em especial com as trapalhadas da vacinação. Trata-se de um processo longo e tortuoso, que só agora começa a entrar na mira do Parlamento, podendo ou não vingar no futuro.
Mas nada, absolutamente nada justifica que representantes do povo deem fôlego a um presidente que mente ao sabor de sua conveniência, desrespeita as instituições e incentiva protocolos de morte. Deixá-lo vencer na Câmara e no Senado é endossar sua política genocida.
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