segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Ricardo Salles é o ministro mais eficiente de Bolsonaro

Enquanto a imprensa patinava nos clichês “ala ideológica” e “ala militar”, o sinistro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, passava a boiada da ala pragmática. Tem feito isso há 21 meses com inegável eficiência. Não é um fanático abitolado como o chanceler Ernesto Araújo. É um burocrata que está cumprindo o papel que lhe foi delegado: destruir o máximo possível no menor tempo possível. Não parece haver ninguém tão competente no ministério de Jair Bolsonaro.

Com aspecto de mauricinho do Itaim Bibi (São Paulo) ou do Leblon (Rio), poderia passar por bom moço, daqueles criados por avó. Mas atua como vilão de gibi. A caneta é a principal arma que usa para derrubar florestas, matar animais, dizimar povos indígenas. Mas, quando abre a boca, também avaliza e terceiriza a destruição. Ele não precisa se gabar da comparação, mas o sangue frio com que desempenha suas tarefas remete ao conceito “banalidade do mal”, criado pela filósofa Hannah Arendt para mostrar como o dia a dia do horror nazista era tocado por burocratas. Salles, porém, tem certo orgulho do que faz. É um pústula vaidoso.



Na semana que passou, ele lustrou um pouco mais sua biografia de vilão. À frente do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), revogou duas resoluções (302 e 303) que protegiam áreas de restingas e manguezais, biomas ricos em biodiversidade. Isso só foi possível porque, em maio de 2019, o governo arrasou o Conama, reduzindo o número de conselheiros de 96 para 23 e fazendo do órgão um cumpridor de ordens.

E a quem o governo serve? Madeireiros, garimpeiros, grileiros, construtores irregulares, lobistas de cassinos... Os principais clientes dos atos contra restingas e manguezais foram os interessados em erguer condomínios e hotéis nessas áreas e nas próximas a reservatórios de águas. É o esquema Milícia Imóveis, que a família Bolsonaro conhece bem da Zona Oeste carioca, transformado em política federal.

A juíza federal Maria Amelia Almeida Senos de Carvalho suspendeu as revogações. Mas na sexta (2) o desembargador Marcelo Pereira da Silva derrubou a liminar da juíza. Escreveu que não vê danos ao meio ambiente nas decisões do Conama.

Salles não peca pela omissão. Desde o início do governo, vem desmontando as redes de combate a crimes ambientais. Agora que Ibama e ICMBio estão em frangalhos, ameaça fundir os dois, embaralhando (e dificultando) suas missões. Confraterniza com a ala mais selvagem do agronegócio, como os pecuaristas que tocam fogo na Amazônia e no Pantanal. Anistia desmatadores. É íntimo de garimpeiros, tendo carregado alguns para Brasília num avião da Força Aérea Brasileira.

Homem de palavra, está levando a cabo o que disse na reunião ministerial de 22 de abril: a pandemia era a janela de oportunidade para fazer “passar a boiada”, as alterações nas regras ambientais para que o imoral vire legal. Na reunião do Conama ele tocou o gado.

Já se fala – de novo, pois Bolsonaro pensou nisso antes de tomar posse – em fazer do Meio Ambiente uma subpasta da Agricultura. Seria uma tentativa de malocar as maldades do governo na área, sinalizando para o mundo que as decisões não estão nas mãos de piromaníacos como Salles, mas nas da ministra Tereza Cristina e dos (sempre eles) militares. Sonha-se, portanto, com mais mentiras, como as que o presidente e o vice Hamilton Mourão dizem com frequência, arrotando “tolerância zero” e duvidando de satélites e cientistas.

Talvez não exista vilania grátis. Salles é investigado por enriquecimento ilícito durante o período em que foi secretário no governo de Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo. Ele, que informara um patrimônio de R$ 1,4 milhão em 2012, declarou em 2018 ter R$ 8,8 milhões. O Ministério Público quer entender de que forma se deu tamanha prosperidade. Como dito, trata-se de alguém que faz as coisas acontecerem com rapidez.

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