quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Mortos pela Covid na conta de Bolsonaro

O dia em que Jair Bolsonaro for levado a responder por seus atos —não se trata de se, mas quando—, o processo relativo ao seu anticombate à Covid-19 terá fartos elementos no livro "Um Paciente Chamado Brasil", do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Nele, entre relatos comprováveis por documentos e testemunhas, fica claro que, em fevereiro, Bolsonaro já sabia o que era preciso fazer para amenizar a disseminação do vírus e não quis fazer —ou fez o contrário.

No livro, com a reprodução até dos diálogos, Mandetta detalha a quem, quando, como e onde foram dados os alertas. Não foi só Bolsonaro quem ignorou a prevenção e sabotou medidas diante dos primeiros contágios e mortes. Por cumplicidade ideológica, ambições políticas ou vaidade pessoal, os paisanos e generais que o cercam deram-lhe o apoio que queria. Eles também terão seus lugares no banco dos réus.



No dia 27 de março, em reunião oficial, Mandetta comunicou ao general Braga Netto, chefe da Casa Civil, que, se a população fosse instruída a adotar medidas de distanciamento social e padrões rígidos de higiene e proteção, o Brasil teria de 60 mil a 80 mil mortos. Se não, eles chegariam a 180 mil. Bolsonaro, informado disso, preferiu acreditar em seu ex-ministro da Saúde, o sabujo Osmar Terra, que "calculou" 3.500 mortes.

Para Bolsonaro, as vítimas se limitariam a idosos, que "morreriam de qualquer jeito". Os outros seriam salvos pela cloroquina. E a quarentena era impensável, porque "poria a economia em risco" e, logo, seu governo. Foi apoiado por Paulo Guedes, ministro da Economia, e que, segundo Mandetta, só enxerga a si próprio. Guedes igualmente esquentará o banquinho no tribunal.

A 16 de abril, quando Mandetta foi demitido, o Brasil tinha 2.000 mortos por Covid. Hoje, passa dos 150 mil. Os 180 mil que Mandetta anteviu estão a caminho. E Bolsonaro diz que não são de sua conta.

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