Se eu transferir para o mundo de hoje essa afirmação de mais de 2 mil anos atrás, teremos nada mais, nada menos que a ascensão do poder político, a grande expressão do poderio moderno.
Evidente que não estou inferiorizando os poderes militar e econômico, mas estes já não são suficientes, e passam a ser submetidos como instrumentos do poderio político.
Quantas vezes que as Forças Armadas afirmaram que a função é proteger a “democracia”, logo, o sistema político, e por pior que este se apresente?! No Brasil, depois da devolução da democracia pelos militares, a política tomou de assalto o país e o poder.
Goethe, célebre poeta alemão, autor de Fausto, uma de suas obras-primas, encenada pela primeira vez em 1829, vinte anos depois de realizada, resumiu com perfeição o que aconteceria 120 anos depois:
O dr. Fausto, movido pela ambição de possuir todos os bens que pudesse conseguir, entregaria sua alma para o diabo. Seria o caso de perguntar o significado de se ter tudo, se a criatura humana perde a si mesma?
O trágico da ambição que se transforma em valor absoluto está exatamente nesse sentido. A ambição que se satisfaz com a pura ambição, pois em lugar de levar o ser humano a possuir, leva-o a ser possuído, e o homem não domina mais nada, mas é dominado por tudo; não dirige porque dirigido. A ambição, que se elege critério absoluto, é insatisfação insanável, permanentemente angustiante.
Dito isso, falta ao cidadão, à sociedade brasileira, necessariamente refletir muito bem sobre essa verdade de fato: na vida humana ou vivemos de acordo com o que pensamos ou acabamos pensando de acordo com o nosso modo de viver.
Exemplo? O próprio poder político!
Qual é a essência do pensamento político nacional? Aproveitar o tempo eleito para enriquecer, e tanto faz se lícita ou ilicitamente.
O parlamentar vira escravo da sua ambição, do seu modo de viver, pois está com o maior dos poderes nas mãos. E possui uma outra circunstância favorável ao seu modo de pensar: a impunidade, pois ele é quem legisla.
No século XVI, quase 500 anos atrás, Francis Bacon, considerado como o fundador da Ciência Moderna, em sua obra Novum Organon, já questionava: “De onde se deduzem os princípios que hoje nos servem de base?”
Respondo: no caso do povo, sobreviver; em se tratando do poder político, a ambição movida pela própria ambição.
No Brasil, o poder político enreda-se em si mesmo, e deixa de ser útil à sociedade para se transformar em pária, pois nada produz, nada faz, nada resolve. O poder político satisfaz seus membros e permite condutas condenáveis, criticáveis, eivadas de má fé e más intenções, porém detentores do poderio moderno!
Cabe aqui lembrar outra curiosidade, advinda da notável e fundamental à humanidade, cultura grega: Dédalo, filho de Himetion, descendente de Erecteu, rei de Atenas, discípulo de Mercúrio, artista notável, construtor, estatuário, inventor, que construía estátuas movidas por mecanismos internos parecendo seres vivos – prestem atenção, por favor! –, matara seu sobrinho, e foi condenado à morte.
Fugiu para Creta, e ficou na Corte do rei Minos – sigam lendo com atenção, peço.
Lá, construiu o afamado Labirinto, construção tão repleta de intrincadas veredas, que quem ali entrasse não conseguiria sair. Dédalo foi a primeira vítima do seu próprio engenho. Minos, irritado com ele, manda prendê-lo no Labirinto com o seu filho Ícaro e o Minotauro. Para nós, o Poder é o Labirinto. Quem está lá dentro não sabe como sair. Se consegue, perdeu a si mesmo, e desfila perante a sociedade como corrupto e desonesto.
O comportamento antidemocrático é usado despudoradamente como natural pelo ambicioso, pois tem impunidade, julga-se acima dos demais porque compõe o poderio moderno, a política deletéria e deplorável.
Então o desespero, as trocas de partido, a deslealdade, os desvios de verbas destinadas à saúde popular, dinheiro sendo conduzido entre as nádegas, cuecas, caixas de uísque, helicópteros, pois é preciso atender à escravidão do poder que eles próprios elaboraram.
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