Sam Zemurray, nascido em 1877 nas proximidades do Mar Negro, fugiu para os Estados Unidos por causa das perseguições a judeus em sua terra. Foi morar em Selma, no Alabama. Edward l. Bernays também era judeu emigrante, mas frequentava a alta sociedade em Nova Iorque. Ele se dizia o pai das relações públicas, uma especialidade que se tornou importante arma política, social e econômica do século XX.
No seu livro Propaganda, Bernays explica os fundamentos de seus estudos e as razões de seu trabalho. ‘’A manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e da opinião das massas é um elemento importante da sociedade democrática. Quem manipula esse mecanismo desconhecido da sociedade constitui um governo invisível, que é o verdadeiro poder no nosso país (…) A minoria inteligente tem que fazer uso contínuo e sistemático da propaganda’’.
Sua teoria começou a ser aplicada na Guatemala, nos anos cinquenta pela famosa empresa bananeira, a United Fruit.
Sam Zemurray venceu sozinho. Começou com um investimento de US$ 150 e construiu um negócio milionário. Ele não inventou a banana, mas conseguiu popularizar o produto e fazer com que a fruta estivesse na mesa do café da manhã de milhões de norte-americanos. Ficou milionário, mas adquiriu péssima fama nos países em que operava.
Ele não hesitou em invadir terras, tratar mal seus trabalhadores e sempre se compôs com os poderosos a preço de elevados subornos. Provocou guerras, colocou e tirou do poder diversos políticos, não pagou impostos e manipulou a política externa dos Estados Unidos. A dupla inventou o perigo comunista na América Central. Justificou a invasão de países e a derrubada de governos legítimos.
No princípio de 1950, a United Fruit operava em Honduras, Guatemala, Nicarágua, El Salvador, Costa Rica, Colômbia e em várias ilhas no Caribe. Gerava lucros astronômicos. A função de Bernays era tornar a imagem da empresa mais palatável aos olhos do público norte-americano. Ele produziu obra impressionante. Entre suas ações espetaculares uma é especial: foi ele quem levou Carmem Miranda para os Estados Unidos.
Chiquita Bacana se vestia de banana nanica. A atriz luso-brasileira arrasou em Hollywood, sempre coberta por frutas tropicais, participou de vários filmes e ajudou a vender muita banana produzida pela United Fruit. Essa história é narrada com maestria por Mario Vargas Llosa, fantástico escritor peruano, que tem em seu currículo um prêmio Nobel de Literatura. O livro chama-se Tempos Ásperos, editora Alfaguara.
No Brasil, o livro chega em momento apropriado. Dentro de trinta dias haverá eleições municipais. As fake news vão transitar com desembaraço. Quem mentir mais e com maior competência será vencedor. Em outro cenário, o governo federal está diante de pesada oposição internacional por causa dos problemas na Amazônia.
Alguns argumentos atendem a problemas particulares. Há muitas ações de relações públicas, no seu pior sentido, neste mundo de grandes interesses.
A eleição nos Estados Unidos terá fundamento nas afirmações delirantes de Donald Trump. Mas seus delírios terão consequências no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Se Joe Biden vencer a eleição um dos primeiros atingidos será o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. Será mais fácil substituí-lo do que abrir um contencioso com Washington.
É o caso do meio ambiente: é mais fácil demitir Ricardo Salles, reconhecido destruidor de florestas e uma espécie de general Custer a destempo, do que brigar com europeus.
O Brasil precisa entrar no século 21. O pensamento dominante nos centros de poder nacionais ainda não absorveu a ascensão da China como potência de primeira grandeza. O fluxo de comércio entre Brasil e Estados Unidos está no menor nível dos últimos anos. Queda livre. A relação comercial com a China, ao contrário, cresce aos saltos.
É urgente assinar o acordo do Mercosul com a União Europeia. O objetivo é gerar empregos aqui. É razoável que os dogmáticos sejam sacrificados. A consequência será reeleição ou derrota. Além disto, como já se viu, resta o rebolado da Chiquita Bacana para americano consumir, brasileiro ingênuo comemorar e a United Fruit faturar.
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