sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Os gaviões do infiel Crivella

“Porque eu sei que meu redentor vive, e que no fim se levantará em meu favor (Jó 19:25). Bom dia”, postou o bispo da Universal e prefeito do Rio. Assim, com uma citação bíblica, Crivella reagiu à truculência filmada de seus “guardiões” nos hospitais municipais. Capangas à paisana, sem crachá, uns 30 servidores são pagos pela prefeitura para mentir, atrapalhar a imprensa e censurar os dramas familiares de cidadãos. Com a conivência do prefeito, que não sofrerá impeachment. Era previsível o voto apertado a seu favor na Câmara dos Vereadores. 

Tudo em nome de Deus. A Bíblia, sempre ela, dá respostas para tudo. Com interpretações subjetivas, para o bem e para o mal. O livro mais vendido do mundo, com quase 4 bilhões de exemplares e milhares de traduções. A Bíblia é o escudo de “bispos” como Crivella, que não sabem o que dizer diante de fatos e imagens tão contundentes. E saem pela tangente. O Estado laico agoniza no Rio. Com suas mentiras e seus malfeitos, Crivella e outros desmoralizam a igreja evangélica. Eles contaminam a fé e a crença.

O prefeito dublê de cantor gospel, com 14 discos, tem sido infiel à cidade e aos eleitores. Seu mantra mentiroso na campanha foi: “Vou cuidar das pessoas”. O redentor do prefeito não é o Cristo. Ele se chama Flávio Bolsonaro. O senador importou do gabinete do ódio, em Brasília, uma equipe para tentar reeleger Crivella. Carlos Bolsonaro comandará o exército virtual. Os irmãos são do partido do prefeito, Republicanos. Quanta ironia contida nessa sigla.


A história dos guardiões de Crivella contra a imprensa não é nova. Assumiu agora, na pandemia, uma dimensão maior, com escalas de serviço e diálogos por WhatsApp. Em dezembro, já havia vídeos nas redes com servidores municipais constrangendo pacientes e parentes às portas de hospitais. Crivella chama essa brigada de rua, lotada em seu gabinete, de “cidadãos” interessados na verdade. O prefeito alega respeitar “o sagrado interesse do povo”. 

De interesse do povo, a administração de Crivella não tem nada. Segundo ex-assessores, é praxe em reunião de trabalho Crivella recorrer a uma citação bíblica. Seu mantra ao fim das frases: “Deus é bom”. Os adversários são todos “Satanás”. As salas dos assessores são equipadas com uma bíblia grande de seu tio, Edir Macedo, fundador da Universal. Nada disso faz o menor sentido. É o oposto de sagrado. Tem menos sentido ainda quando é associado à administração pública. A religião não pode governar o Estado, é preciso desenhar? Caminhamos a largos passos para o fundamentalismo. 

Os eventos no Palácio e coletivas organizadas pelo prefeito seguem um padrão. Encher os auditórios com pessoal da igreja, vaiar repórteres que fazem perguntas. Quem manda no aparato de comunicação de Crivella é o secretário de Ordem Pública, Gutemberg Fonseca. A chefe de gabinete Margarett Rose Nunes Leite Cabral é outra fiel escudeira. Assim como o pastor Marquinhos, ou ML, o Marcos Luciano, assessor especial.

Os gaviões do infiel Crivella também são agressivos com jornalistas que trabalham na própria prefeitura. Eles não admitem que se fale direito com coleguinhas. Já foi necessário apartar brigas físicas entre os fundamentalistas do ódio e os assessores mais independentes e menos religiosos. O clima é assim...meio miliciano. De brutamontes.

O prefeito reza o credo da família presidencial. Em abril, em plena pandemia, Crivella fez uma transmissão que lhe rendeu cadeira cativa no céu bolsonarista. “Tenho certeza de que o presidente da República está sendo guiado por Deus. (…) Nunca tivemos um presidente tão ciente de suas magnas responsabilidades. Quando uma nação liderada pelo seu presidente dobra o joelho diante de Deus, é algo extraordinário, fantástico. Tenho certeza absoluta de que os anjos levaram aos céus a prece de nossa nação”. A transmissão terminou com Crivella rezando o Pai Nosso. Amém.

Não adianta falar com a Márcia, irmãos. Vamos tentar votar direito. Todos nós. Católicos, evangélicos, umbandistas, agnósticos, ateus. Vamos avisar ao Cristo Redentor que um batalhão de oportunistas usa seu nome em vão. A verdade não pode nos faltar.

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