quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Pandemia evitou a demissão de Paulo Guedes, mas agora não tem mais desculpas

O estranho governo de Jair Bolsonarro é envolto em dúvidas, todo nebuloso, mas uma coisa é certa – se não tivesse havido a pandemia de coronavírus, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já teria rolado ladeira abaixo, junto com o posto Ipiranga e tudo o mais. E não é por mera coincidência que três de seus mais importantes assessores já tenham se desligado, a começar pelo secretário do Tesouro, Mansueto Almeida.

É impressionante que Guedes tenha assumido o cargo sem haver esboçado um programa econômico, exatamente como ocorreu com o petista Antonio Palocci, ao assumir o ministério da Fazenda em 2003. O PT não tinha nenhum plano para a economia, quem colocou o governo para andar foi a dupla Carlos Lessa e Darc Costa, dois grandes craques em política econômica.

Lessa e Darc, presidente e vice do BNDES, colocaram o banco a serviço do país, recriaram a indústria naval, apoiaram os setores produtivos e as exportações, especialmente o agronegócio, incentivaram os micros e pequenos empresários com o cartão BNDES, e o resultado foi a subida do PIB, que chegou a 7,5% em 2010, último ano de Lula.

Quando deixou o governo, por se desentender com Palocci, o professor Lessa deu uma aula à Nação, ao atacar a postura da Fazenda e prever que a alta da economia seria um “voo de galinha”, logo iria desabar. Não deu outra, e até agora não ocorreu a retomada da economia.

Palocci tinha a desculpa de ser médico, mas Guedes é economista e se julga um gênio, embora seja apenas genioso.


Desde o início do governo, Guedes se mostrou todo enrolado, não sabe o que fazer. Como uma espécie de samba de uma nota só, fica repetindo que é preciso vender Petrobras, Eletrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica e algo que mais que tenha dado certo e propicie lucro e segurança ao país.

Ao assumir, em 1º de janeiro de 2019, Guedes não tinha nenhum plano, deveria ter seguido a linha de Meirelles, que se mostrara acertada, mas a vaidade não permitiu. Com a reforma da Previdência, prometeu que o país economizaria R$ 100 bilhões por ano, perfazendo R$ 1 trilhão em dez anos, mas ninguém pensou em interná-lo.

Em fevereiro deste ano, entregou a Bolsonaro seu projeto de reforma tributária. Apesar de não saber da briga entre José Lins do Rego e Oswald de Andrade, o presidente poderia ter repetido a frase do escritor paulista, dizendo: “Não li e não gostei”, porque simplesmente recusou a proposta de Guedes, sem entrar no mérito.

Guedes aproveitou a pandemia e ficou escondido atrás do coronavírus até 21 de julho, quando enviou ao Congresso a primeira parte da reforma, envolvendo a tributação sobre o consumo.

Não se trata de reforma, mas de aumento de impostos. Atualmente, paga-se 0,65% de PIS e 3% de Cofins, num total de 3,65%, que o farsante Guedes quer elevar para 12%, mais do que triplicando o valor para os empresários. Os banqueiros, porém, pagariam apenas 5,8%, a pretexto de que as instituições financeiras “não apropriam nem permitem a apropriação de créditos”. Entenderam? Claro que não vai. É só mais uma desculpa para favorecer os bancos.

Bolsonaro também proibiu Guedes de recriar a CPMF, mas o ministro de uma nota quer ressuscitá-la com outro nome. Em tradução simultânea, isso não vai dar certo e Bolsonaro vai deletar o ministro.

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