O jovem palestino chama-se Jihad Al-Suwaiti. Sabe-se que a mãe, Rasmi, de 73 anos, faleceu poucos minutos após o filho alcançar a janela. Quanto à mulher que enfrentou as forças policiais, em Portland, os jornais norte-americanos deram-lhe um nome: Atena — a deusa grega da sabedoria, mas também da justiça e da estratégia militar.
A primeira imagem resume o desespero destes dias. Que doença é esta, que maldade é esta que impede um filho de abraçar sua mãe enquanto ela morre?
A segunda, pelo contrário, transmite uma espécie de alegria selvagem. Ali está aquela mulher, absolutamente desprotegida e, ainda assim, desafiadora e triunfante. Atena parecia já saber como tudo terminaria. Num primeiro momento, os policiais avançam. Naquele jogo, os seis ou sete homens-rinoceronte representam o passado avançando contra o futuro. Donald Trump está por ali, no coração sombrio de cada um dos policiais. Trump e a sua repugnante misoginia. Trump e o seu racismo ancestral. Trump e a sua abissal ignorância. Trump e todos os seus preconceitos arcaicos e decadentes.
A mulher senta-se no asfalto, abre as pernas, e é então que se transforma na origem do mundo e no mundo novo que virá. Os policiais hesitam. Param. Finalmente recuam, abandonando a cena.
No momento em que escrevo esta coluna ainda pouco se sabe sobre Atena. Talvez seja melhor não saber. As boas fotografias contam uma história. Não necessariamente a verdadeira história. Em algumas das melhores existe tanto de realidade quanto de ficção. Eventualmente, apenas ficção. É o caso, por exemplo, do famoso beijo clicado por Robert Doisneau em frente ao Hotel de Ville, em Paris, em 1950. A fotografia, publicada pela revista “Life”, para uma reportagem sobre o amor em Paris, contribuiu para consolidar a imagem romântica da capital francesa. Anos mais tarde, contudo, o próprio fotógrafo reconheceu ter encenado tudo. Os protagonistas do beijo eram, afinal, dois jovens estudantes de teatro contratados por Doisneau.
No momento em que escrevo esta coluna ainda pouco se sabe sobre Atena. Talvez seja melhor não saber. As boas fotografias contam uma história. Não necessariamente a verdadeira história. Em algumas das melhores existe tanto de realidade quanto de ficção. Eventualmente, apenas ficção. É o caso, por exemplo, do famoso beijo clicado por Robert Doisneau em frente ao Hotel de Ville, em Paris, em 1950. A fotografia, publicada pela revista “Life”, para uma reportagem sobre o amor em Paris, contribuiu para consolidar a imagem romântica da capital francesa. Anos mais tarde, contudo, o próprio fotógrafo reconheceu ter encenado tudo. Os protagonistas do beijo eram, afinal, dois jovens estudantes de teatro contratados por Doisneau.
Também as fotografias de Atena foram, muito provavelmente, encenadas. Custa a crer que a jovem se tenha despido, subitamente, de improviso, respondendo a uma misteriosa voz interior, vinda do futuro. Ainda assim, creio que continuarão a inquietar e a comover quem quer que as veja, daqui a um século, por aquilo que exprimem de revolta, de vitalidade e de certeza.
A imagem de Jihad Al-Suwaiti, na tristíssima solidão da sua janela, faz-nos querer sair já deste presente. As imagens de Atena deixam-nos com a convicção de que iremos sair; de que já começamos a sair.
Nenhum comentário:
Postar um comentário