Ou seja, o País começa a entrar na fase aguda da crise, com perspectivas funestas, o que demanda a ação rápida, decisiva e inteligente das autoridades no sentido de preservar vidas, mesmo que isso prejudique a economia – afinal, empresas podem superar prejuízos e trabalhadores podem recuperar empregos, mas, como é terrivelmente óbvio, mortos não ressuscitam.
Nenhum esforço regional, por mais competente que seja, é capaz de substituir a liderança federal no combate à pandemia. Por isso, a responsabilidade primária, irrenunciável e intransferível pela condução do País na crise é do presidente da República, Jair Bolsonaro, e ele terá de arcar com o peso de suas decisões sobre a vida de todos os cidadãos. O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, assumiu essa mesma responsabilidade quando aceitou o cargo, e por isso mesmo o País acompanhou, atento, suas primeiras palavras, na esperança de encontrar ali um compromisso cristalino com a ciência e o bom senso.
O que se viu até aqui, porém, foi um ministro ciente de que ocupa um cargo político, a ele designado por questões exclusivamente políticas. Tratou de equilibrar-se entre a demanda de seu chefe para determinar o fim do isolamento social e o fato incontornável de que esse isolamento é a única forma, hoje, de enfrentar a pandemia.
O ministro Teich se diz em “completo alinhamento” com o presidente Bolsonaro, que considera exageradas as medidas de isolamento social, mas dias antes de ser nomeado publicou um artigo em que defendeu o isolamento como “a melhor estratégia no momento”. Ou seja: enquanto era apenas um profissional de saúde, o doutor Teich reafirmava aquilo que todos os gestores de saúde sabem; quando se tornou ministro, assumiu o típico discurso político – que muito fala para nada dizer.
Para começar, o novo ministro declarou que é preciso “conhecer melhor” a doença a fim de criar estratégias para a volta à normalidade. Ora, é exatamente isso o que o mundo inteiro está tentando fazer há meses, ainda sem resultados. Segundo o ministro Teich, será necessário elaborar um amplo “programa de testes”, embora o Brasil esteja muito atrasado na aplicação desses exames, por variados motivos, e nada indica que essa situação mudará num futuro previsível.
Para piorar, Bolsonaro mandou suspender uma iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia, em parceria com operadoras de celular, para monitorar o fluxo de pessoas pelo País e assim identificar o nível de adesão à quarentena. Alegando um risco à privacidade inexistente nesse caso, o presidente dificulta a produção de informações necessárias para preparar o sistema de saúde. Desse jeito fica difícil “conhecer melhor” a doença, como quer o ministro da Saúde.
Assim, justamente no momento em que o País mais precisa de determinação e rumo, ante a expansão exponencial da pandemia, o novo ministro da Saúde tem a oferecer apenas palavras ditas sob medida para satisfazer Bolsonaro, que só confia naqueles que o adulam e cultiva antagonistas como método de governança.
A missão do ministro Teich já não seria fácil de qualquer maneira, pois se está diante de um dos maiores desafios globais de saúde pública em um século. Mas essa missão será ainda mais árdua porque é preciso lidar também com um presidente que não acredita em resultados eleitorais chancelados pela Justiça Eleitoral, tampouco nos números da devastação na Amazônia, mas diz acreditar piamente na eficácia de um remédio contra a covid-19 que ainda está em testes; e esse presidente, ademais, encara o novo coronavírus não como uma emergência de saúde pública, mas como arma invisível usada por seus supostos inimigos – dos governadores de Estado ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia – para derrubá-lo.
Temos, no entanto, grandes esperanças de que o ministro Nelson Teich saberá ultrapassar todos os obstáculos que contra ele já se erguem no caminho da superação desta crise global.
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