O grande pensador e poeta Paul Valéry nos alerta, premonitoriamente, no entreguerras: “Civilizações, não se esqueçam de que são mortais”. Esta pandemia, que seguramente não será a última, vem nos lembrar, peremptória, a nossa possibilidade de desaparecer como civilização, abrupta ou lentamente, seja pelo caos, por armas atômicas, pelos danos ao meio ambiente, pela falta d’água ou por epidemias.
Na falta de testes em larga escala, urge organizar a vigilância epidemiológica dos casos de síndrome respiratória aguda grave e gripe, inclusive dos óbitos, gerando informação necessária sobre os vetores de expansão da doença e seus números. Dispensadas estão as metáforas quando o hiperrealismo grita, ululante como diria Nelson Rodrigues: Nova York, a cidade mais cosmopolita e rica do mundo, ultrapassa os 200 mil casos e enterra alguns milhares de seus cidadãos em cova rasa, se ajoelha diante da tragédia humana inaudita, a superar qualquer narrativa épica grega. Mas vai conseguir achatar a curva de transmissão do novo coronavírus com o isolamento social.
Nesta Páscoa tão insólita, contrita, mais que nunca carregada de seu sentido de travessia e libertação, nos vemos em meio à angústia, com mais perguntas do que respostas, e muitas dúvidas. É restauradora a visão de peixes e patos de volta aos canais de Veneza, bem como ouvir a homilia do Papa Francisco e Andrea Bocelli cantar “Amazing grace” numa catedral de Milão deserta. Retroalimenta-nos da velha e teimosa confiança de que podemos prosseguir, capazes de olhar o Apocalipse não como um livro de maldições, mas como ele é, uma leitura de revelação e esperança.
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