Ele tentaria impor sua agenda obscurantista, mas as instituições resistiriam. Alguns retrocessos seriam inevitáveis, mas ao menos as ideias mais aparvalhadas não chegariam a materializar-se no nível de leis e emendas constitucionais. Mesmo a regulamentação infralegal, que depende só da caneta presidencial, poderia ser desfeita pela Justiça nos casos mais gritantes, como de fato ocorreu.
Isso, porém, é passado. Agora, tudo mudou. Topamos com um cisne negro —a Covid-19 e seus desdobramentos econômicos— que exigiria um governante à altura dos desafios. Alguns líderes crescem na crise. Bolsonaro não é um deles.
A pergunta que se coloca é como vamos neutralizá-lo. A solução definitiva seria o impeachment. Até o mês passado, o que o protegia do afastamento era a inexistência de uma forte piora da economia. Bem, a crise chegou.
A dúvida é se, em meio ao turbilhão que se instalou, o Congresso vai ter energia para dedicar-se a um impeachment. Pelo menos por ora, creio que não. O que deve ocorrer, agora que até ministros já perceberam que não dá para confiar em Bolsonaro, é uma articulação informal para fazer um “by-pass” do presidente. Os chamados adultos da sala deixariam o homem falando para o núcleo cada vez mais reduzido de apoiadores e se entenderiam para tomar as decisões importantes.
Pode funcionar, mas não sem incertezas. O despreparo de Bolsonaro é não só intelectual como emocional, o que o transforma num risco ambulante. Nada impede que amanhã ele rompa com a China ou, num surto de ciúmes, demita o ministro da Saúde, que comanda uma das poucas áreas racionais do governo.
O voto tem consequências.
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