Abraham Weintraub, ministro da Educação, que comanda o segundo maior orçamento da Esplanada — ou terceiro caso se inclua a Previdência, mas acho impróprio —, resolveu se manifestar no Twitter. Postou oito mensagens atacando Priscila. No momento mais eloquente, mandou ver: “Para fechar o bloco de informações sobre Priscila Cruz e sua ONG ‘Todos pela Educação’: CORONAVÍRUS!!!".
É pouco? Veio a conclusão: “Salmos 94:23: O Senhor fará recair sobre eles a sua própria iniquidade, e os destruirá na sua própria malícia; o Senhor nosso Deus os destruirá.” Weintraub afirmava com todas as letras que a covid-19 é um castigo divino que atinge os que ele considera adversários do governo.
Na terça-feira (10), em discurso em reunião acanhada, o presidente Jair Bolsonaro decidiu estrear como líder global. Refletiu em Miami: “Obviamente temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo”.
É difícil adequar a pontuação da fala às regras da gramática, mas está claro o sentido moral do que diz o visionário. No dia seguinte, a OMS elevou a contaminação à condição de pandemia. E, por óbvio, no que diz respeito à prevenção, a nossa maior esperança de saída da crise, com menos trauma possível, reside no trabalho da imprensa profissional, aquela mesma que é odiada pelo sábio pensador.
A estupidez impune no governo federal e no entorno de Bolsonaro é de tal ordem que essa gente está recebendo lição de moral até de microorganismo. Sim, é uma ironia. Aqueles seres insidiosos, até onde a ciência pode alcançar, são amorais e agnósticos. Fabio Wajngarten, que comanda a guerra que Bolsonaro decidiu travar contra a imprensa, voltou de Miami com a covid-19. Estão, pois, sob observação o presidente da República, todos os que integraram a comitiva e, ora vejam!, até Donald Trump.
Quando Mônica Bergamo publicou na Folha que Wajngarten havia se submetido a exame para eventual detecção do vírus, ele próprio foi ao Twitter: “Em que pese a banda podre da imprensa já ter falado absurdos sobre a minha religião, minha família e minha empresa, agora falam da minha saúde. Mas estou bem, não precisarei de abraços do Drauzio Varella.”
Assim como a crase nos textos de Weintraub, parafraseando Ferreira Gullar, o coronavírus não foi feito para humilhar ninguém. Também não estamos diante de uma lição de história. Agora que a contaminação comunitária no país é uma realidade, qualquer um de nós está sujeito a ser capturado por aquela bela ilustração: uma bolota azul, ornada de filamentos vermelhos.
Diabos! O ministro da Educação, como sempre, está errado. O vírus não escolhe seus alvos, iníquos ou não. Também ele se submete aos ditames da história e da economia. Espalha-se por intermédio de quem pode viajar — há aí um primeiro corte de classe — e, depois, na contaminação comunitária, é especialmente perverso com os pobres: outro corte de classe. Os sem-grana têm especial atração por doenças pré-existentes sem o devido tratamento. E também gostam de economizar cano de esgoto, segundo Marcelo Crivella. Por isso morrem soterrados em deslizamentos.
Como se nota, e eu sou a prova, há um risco associado a esse troço já percebido pelos seguidores dos Protocolos dos Sábios de Olavão: o tal bicho é parte da guerra contra os justos levada adiante pelo marxismo cultural...
Para encerrar: ou bem a China agiu corretamente, como notam analistas e especialistas, ao conter a expansão da covid-19 com uma severa quarentena — e não li nenhuma contestação a respeito —, ou bem estamos por aqui a brincar com o perigo, convencidos de que o bichinho, que só atacaria os iníquos, é uma fantasia da grande mídia.
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