quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Em eterna campanha, Bolsonaro se esquece de que também precisa governar

Ao invés de descansar e refletir durante o recesso de Carnaval, para cumprir sua missão de tirar esse país do lodaçal em que se encontra, o presidente Jair Bolsonaro continua a fazer campanha política. Assim como o Chapolin Colorado, seus atos são “friamente calculados”. no intuito de buscar amplo apoio popular e vencer a próxima eleição. E acredito que até consiga, devido à falta de opção do eleitorado e à divisão do país entre os que sonham com a volta de Lula da Silva e aqueles que abominam essa possibilidade.

Não há a menor dúvida – no momento, o Brasil esta divisão beneficia Bolsonaro por alguns motivos muito especiais, como ter se cercado de militares e até agora não haver denúncias de corrupção administrativa. É o que basta para muitos eleitores que não aguentavam mais os mensalões e petrolões que caracterizaram a era do PT.

Propositadamente ou não, Bolsonaro se aproveita desse sentimento antiPT, que é uma verdadeira comoção social, e segue em frente, sempre em campanha.


Antes da eleição de 2018, fiz questão de abrir meu voto para Bolsonaro, mas não deixei de registrar que o considerava “um idiota completo”. O futuro veio mostrar que eu tinha razão em fechar a porta à Era do PT, que caminhava para transformar esse país numa ditadura sindicalista, embora muitos não percebessem essa realidade, e na atual gestão haveria duas vagas a preencher no Supremo.

Bem, com mais dois Toffolis na cúpula do Judiciário, a fatura ditatorial estava garantida. Não importaria mais o que o Congresso aprovasse, porque o Supremo consideraria a lei inconstitucional, caso não atendesse aos interesses dos ditadores petistas, no estilo Venezuela de Chávez y Maduro.

A partir do governo de Michel Temer, o sonho da ditadura sindicalista acabou e não há mais recursos públicos para custear as manifestações “populares”. O Brasil está livre para exercer a democracia, mas o problema é que Bolsonaro não tem postura de estadista, deixou que os filhos e o guru virginiano atrapalhassem seu governo.

Até agora, com mais de um ano de gestão, é um drama shakespeariano, pois não se sabe se o presidente vai ouvir os ministros ou os filhos. Além disso, nesta campanha para a reeleição, Bolsonaro cria um problema atrás do outro, é um nunca-acabar.

Assim, o país vive dividido de diversas formas – entre os que amam ou odeiam Lula e o PT, entre os que adoram ou abominam Bolsonaro e o terraplanismo, e entre os que sonham com uma nova ditadura militar e os que não aceitam esse retrocesso.

Reina o radicalismo na pátria amada, infelizmente. É a nossa realidade atual, com um quadro político inteiramente atípico e que merece reflexões de quem se interessa pelo país.

O pior é perceber que Bolsonaro é um falso herói. Digam o que quiserem, o presidente tem demonstrado que não sabe unir, tem uma vocação irresistível para fazer inimigos, porque cultiva a mania de perseguição – uma paranoia que merece tratamento específico.

Carlos Newton

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