quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Carnaval e algumas lembranças de uma época triste

Foi-se mais um Carnaval e, com ele, muitas ilusões. Não obstante, os nossos foliões – em torno de 4,5 milhões, segundo o sindicato dos hotéis, citado em O TEMPO – se esbaldaram, e com bem menos violência. Aquele que outrora conheci era diferente. Prevaleciam os famosos bailes nos clubes.

As coisas mudaram e, segundo os que entendem dessa festa popular, para melhor. Há até os que afirmam que já é o terceiro do país: Rio, São Paulo e Belo Horizonte. O de Salvador ficou para trás. Ou é só otimismo?

Agora é começar tudo outra vez, leitor. Todo empenho na procura do desenvolvimento do nosso país ainda será pouco. É indispensável enfrentar a desigualdade social que nos ameaça e aumenta dia a dia.

Que a Quarta-Feira de Cinzas tenha servido de reflexão para todos: presidente, vice-presidente, deputados federais, senadores, governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores. E que cada brasileiro de responsabilidade, seja empresário ou simples cidadão, renove o seu compromisso com a defesa da democracia. Que se afaste de vez qualquer risco de um regime autoritário, independentemente da cor ideológica.

Conscientizemo-nos de que ele não nos levará a lugar algum, só ao desastre humano. Trabalhemos juntos, enfim, para que nosso país conquiste o relevo que merece entre as grandes nações.

Muito do que tem acontecido atualmente no país, envolvendo posições político-ideológicas do presidente Jair Bolsonaro, me leva a pensar num tempo triste. Digo logo que não é nada prazeroso me lembrar desse tempo e do que vivi como jornalista no velho e saudoso “Jornal do Brasil”, durante quase toda a ditadura militar.

Após o fatídico 1968, o sofrimento era quase diário. Apenas um exemplo: recebia, com certa frequência, telefonemas anônimos ameaçadores, cuja origem jamais me foi possível identificar, dirigidos a mim e aos jornalistas que trabalhavam na regional, sobretudo os que cobriam política.

Alguns telefonemas eram verdadeiros. Convocavam-nos – os responsáveis pelos jornais nacionais – para reuniões no antigo CPOR, situado à rua Juiz de Fora. Ameaçavam-nos com a censura (há algo mais odiento numa democracia?) como se fôssemos responsáveis diretos pelo envio das matérias produzidas aqui, mas muitas vezes solicitadas pela sede.

Olhando o dia de hoje, vejo que nos falta grande frente de afirmação democrática, de respeito à liberdade e, claro, ao Congresso Nacional, sem o qual não há democracia.

Li ontem, leitor, realmente perplexo, que o presidente Bolsonaro compartilhou mensagem em vídeo, por WhatsApp, convocando o povo para atos contra o Congresso no dia 15 de março. Essa informação, segundo se noticiou, foi confirmada a “O Globo” pelo ex-deputado federal Alberto Fraga, amigo do presidente.

Que imprudência, presidente! Não é esse o caminho!

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