Na semana passada, Bolsonaro recebeu no Planalto alguns músicos sertanejos, e sua assessoria divulgou uma lista acrescida de 22 nomes que não estiveram presentes. Foi uma gritaria. Justamente os mais importantes, como Bruno e Marrone e César Menotti e Fabiano, mandaram avisar que não foram ao beija-mão. Muitos não estão mais dispostos a associar suas imagens à errática política cultural do presidente. Pode parecer bobagem, mas não é. Os sertanejos se associaram a Bolsonaro desde cedo, ainda na campanha, em razão de sua raiz no interior do país e pela proximidade com o agronegócio.
Mesmo entre os músicos dos grandes centros sem viés ideológico há um contingente de profissionais cada vez incomodado com o governo que se lixa para a cadeia produtiva da música. São milhares de pessoas que vivem, alimentam suas famílias, colocam seus filhos nas escolas, pagam impostos, contribuem com a Previdência e que têm suas pautas ignoradas pelo governo. Um grupo do Rio fracassou quando tentou organizar uma comitiva para ir a Bolsonaro fazer lobby contra a Medida Provisória que isenta hotéis de recolher direitos autorais em seus quartos.
Ancestralmente próximos do capitão, os garimpeiros também ameaçam pular fora. Dizem que estão sendo perseguidos pelo governo que lhes prometeu apoio. Nem o projeto que autoriza mineração e geração de energia em terra indígena os anima. Segundo líderes garimpeiros, em algumas reservas a mineração se dá em acordo com líderes tribais há quase meio século. O projeto apresentado na terça-feira, segundo eles, vai ser bombardeado e pode atrapalhar os garimpos que hoje funcionam com o aval e a participação de comunidades indígenas.
Os garimpeiros dizem que os índios mundurucus, do Amazonas, convivem com eles há quatro décadas e participam da mineração com dragas próprias. As maiores reservas de diamante no Brasil ficam nas terras dos índios cinta largas, entre Rondônia e Mato Grosso, que as exploram. Os caiapós-xicrins, de Tocantins, estão no garimpo há 30 anos e têm aviões e maquinário próprio, além de gado e área de pastagem. Eles citam também garimpos tucanos, na fronteira com Colômbia e Venezuela, e macuxis, da reserva Raposa Serra do Sol. O que eles queriam era a regularização dessas reservas, mas a fiscalização do governo ignora os entendimentos e parte para cima deles “com virulência”, reclamam os garimpeiros.
A proposta de Bolsonaro incomoda os três lados da questão. Irrita ambientalistas, que enxergam no projeto carta branca para a degradação das reservas; aos índios, que perdem a autonomia sobre seu território; e aos garimpeiros, que temem que a chancela de Bolsonaro crie mais dificuldades do que resultados positivos. Na apresentação do projeto, Bolsonaro reconheceu que o texto vai ser objeto de ataques de ambientalistas. E disse: “Se puder, confino os ambientalistas na Amazônia”. Dá para entender por que tanta gente quer distância.
Expo de armas
A Tabacaria Africana, uma das mais tradicionais charutarias do Centro do Rio, permitiu que se realizasse nos seus salões uma reunião, aparentemente ilegal, de donos de armas. Um frequentador chegou ao local, num sábado à tarde, há cerca de um mês, e se deparou com um grupo de cerca de 20 homens que expunham suas armas sobre as mesas da tabacaria. Esses homens manipulavam as armas, comparavam umas com outras, parecia que negociavam entre eles. O charuteiro de fim de semana que viu a cena não pôde garantir se eles comercializavam ou apenas exibiam suas armas, porque, assustado, se mandou do lugar rapidinho.
Política Tributária
Já se viu de tudo na formulação do emaranhado de impostos que assombra o Brasil, mas fazer política tributária na porta do Palácio da Alvorada, empurrado por um grupo de adoradores que vai lá apenas para bater continência ao presidente, foi a primeira vez.
Privatizar a Cedae
São inúmeras as razões que pode-se listar em favor da privatização da Cedae, mas uma delas é imbatível e ficou cristalina (ao contrário da água que a empresa fornece) com a crise de abastecimento atual. Se associações de moradores do Rio se reunissem e movessem uma ação contra a Cedae, e a Justiça obrigasse a empresa a indenizar os usuários pela péssima qualidade do serviço prestado, quem iria pagar a conta? Pois é, seríamos você, eu e todos os nossos vizinhos. A conta seria paga pelo contribuinte fluminense. Pagaríamos para nós mesmos. Agora, se a Cedae pertencesse a um desses megaempresários chineses ou a uma grande empresa privada brasileira, a conta da indenização pelo desastre não seria de nossa responsabilidade. Embora os cidadãos do Rio nada tenham a ver com a má gestão da empresa, a responsabilidade pecuniária pelo desastre hoje é deles. É nossa.
Boa medida
Não era necessário esperar tanto, mas, enfim, parece estar saindo do papel projeto que acaba com a reserva de mercado para empreiteiras brasileiras sobre as obras públicas de infraestrutura. Em março, o megaescândalo que expôs a rede de corrupção das empreiteiras brasileiras completa seis anos, e a Odebrecht e companhia ainda hoje têm exclusividade sobre obras nacionais. As estrangeiras só podem operar no Brasil se tiverem filiais nacionais.
Prerrogativas
As prerrogativas de foro foram criadas ainda na Grécia antiga para proteger a função pública e garantir a punição em instância superior de crime praticado pela pessoa que a ocupe. Aos poucos o foro especial virou foro privilegiado e no Brasil é sinônimo de impunidade. Por aqui, onde já vimos quase tudo, surgiu um novo caso, o do deputado Wilson Santiago (PTB-PB). O parlamentar, que se apropriou de R$ 1,2 milhão dos cofres públicos, foi mantido na função pelos seus pares na Câmara, apesar de seu afastamento ter sido determinado pelo ministro Celso de Mello. PT, PCdoB, PSOL, MDB e DEM votaram a favor de Santiago. Pois é.
Hospital em Dez dias
Na China, o governo chinês ergueu um hospital em dez dias para atender as vítimas do coronavírus, que já matou mais de 500 pessoas. No Brasil, onde 754 pessoas morreram por dengue no ano passado, os hospitais estão sendo destruídos há dezenas de anos.
Vampiro, fora
Não foram necessários crucifixos, dentes de alho e estacas de madeira. Bastou um peteleco de um senador para que o deputado Luiz Vampiro (MDB-SC) desistisse da cadeira de líder do governo na Assembleia de Santa Catarina. O que está por trás disso é uma guerra entre o governador-bombeiro Carlos Moisés e os filhos do presidente Bolsonaro (eles outra vez). O fato é que Vampiro estava fechando com o governador desafeto dos meninos quando lhe cortaram as asinhas.
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