quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Que ninguém se iluda, ou então nada seremos

Em 1995, no Colégio Militar de Porto Alegre, oito cadetes elegeram Hitler como a personalidade que mais o impressionaram ao longo da história. Criticados pela imprensa, Jair Messias saiu em defesa dos "garotos". Militar da reserva, em seu segundo mandato como deputado federal, classificou a predileção dos cadetes como "apenas gracejo, brincadeira". De lá para cá, só piorou. Na sessão de impeachment de Dilma, ao votar, Bolsonaro teve o descaramento de citar o nome do degenerado torturador Brilhante Ustra.


E Alvim caiu. Não há o que comemorar. A vocação nazista de Roberto Rego Pinheiro, codinome Roberto Alvim, agrada Bolsonaro. O discurso extremista do agora ex-Secretário de Cultura reflete rigorosamente o pensamento do presidente. Bolsonaro conhece bem Alvim. Adorou a idéia da "próxima década (da cultura) heroica e nacional profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo", declarada em vídeo por Alvim.

O ex-secretário de Cultura era um bom aluno. No mesmo dia em que publicou seu vídeo "cópia cola de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler",  recebeu, ao vivo, rasgados elogios do Capitão. "Agora temos, sim, um secretário de Cultura de verdade. Que atende o interesse da maioria da população brasileira, população conservadora e cristã".

O texto declarado por Bolsonaro é parecido ao recitado por Alvim-Goebbles. Os dois falam em "interesses da maioria da população brasileira", como se deles dependesse o que, como, quando, onde a "maioria" dos brasileiros podem ver, ouvir, e aplaudir a arte no Brasil. Declaram a censura. Covardemente. Mas "a arte, Capitão, não é um espelho do mundo, é sim, uma ferramenta para consertá-lo", no poema de Vladimir Maiakóvski.

O valentão Capitão não mudou de opinião da noite para o dia sobre Alvim, o Secretário de Cultura "de verdade" ou os "ideais de Goebbles ou de Hitler". Que ninguém se iluda. Bolsonaro não resistiu às pressões. Teve que demitir o secretário depois do ricochete da comunidade judaica internacional. Adorador de Benjamin Netanyahu, ficou sem opção.

Saiu Alvim. Restaram fantasmas e desenredos. Certamente menos tóxica, Regina Duarte não terá fiança da grande parte da classe artística. E dificilmente resistirá às intimidações, à compressão do poder. Corre o risco de sair destruída. Regina não parece ter o sangue de barata que corre nas veias de Sérgio Moro.

Regina deve saber que não é Roberto Alvim que assina as idéias de Goebbles, como disse antes de ser demitido. É Bolsonaro. São seus filhos. São seus assessores mais próximos. São ministros. O pensamento nazista impera no governo.

A repercussão nacional e internacional do texto de Alvim nos dá vigor. A vigilância permanente da sociedade civil nos dá folego. Partiu de uma advogada anônima a identificação do plágio nazista, imediatamente jogado na mídia pelo Site "Jornalistas Livres".

A vigília não é só necessária, é vital. "Você não pode deixar ninguém invadir o seu jardim para não correr o risco de ter a casa arrombada", de novo, do poeta russo Vladimir Maiakóvski, morto aos 36 anos, em 1930.

PS: Enquanto nos distraímos com Alvim, uma dezena de denúncias de "mal feitos" pipocam dentro e fora do Palácio, com quem detêm a informação e a torna pública... Cadê o presidente da Casa da Moeda, que destituiu toda a diretoria para nomear um amigo por $ 40 mil? Eduardo Zimmer Sampaio e o amigo nomeado são vizinhos de Bolsonaro no Condominio Vivendas da Barra. Cadê o Flavio Bolsonaro? Cadê o Queiroz? Quem mandou matar Marielle? O que é "veremos lá na frente"?

Veremos. Vigilantes. Prevenidos.

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