terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Enquanto o Brasil esvazia BNDES, a China cria um BNDES dela aqui

O maior problema da discussão política são as aparências. Muitas vezes elas nos enganam. Aqui na Tribuna da Internet, é comum surgirem comentários propondo a privatização ou até extinção do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Esse tipo de colocação resulta da ignorância reinante sobre a importância da atuação do banco nos diversos ciclos de crescimento socioeconômico que levaram o Brasil a se tornar uma das dez maiores economias do mundo.

Os defensores da extinção ou privatização do banco de fomento esquecem que o Brasil somente se industrializou porque o BNDES oferecia ao empresário brasileiro juros no padrão internacional. Criado através da Lei nº 1.628, em 20 de junho de 1952, durante o governo constitucional de Getúlio Vargas, o então BNDE (sem a rubrica Social) surgiu com a dupla incumbência de realizar planejamentos e implantar políticas consideradas fundamentais para o avanço da industrialização. Em síntese, o Banco seria o principal formulador e executor da política nacional de desenvolvimento econômico. E cuidou brilhantemente dessa atribuição.


No início da década de 90, o governo da China enviou uma delegação de economistas ao Brasil para estudar o funcionamento do BNDES, que era então o maior banco de desenvolvimento do mundo, com capital superior ao do grupo bancário KfW, o BNDES germânico, cuja atuação foi fundamental para a recuperação econômica da antiga Alemanha Oriental.

Com base na estrutura enxuta do BNDES, o governo chinês criou sua própria instituição de fomento – o Banco de Desenvolvimento da China, que hoje é o maior do mundo, e trabalha em conjunto com o Eximbank chinês, enquanto no Brasil o BNDES acumula as duas funções – apoio à indústria e às exportações.

Essa história nada tem de original. Parodiando o cineasta George Stevens, pode-se dizer que assim caminha a Humanidade, porque as iniciativas que dão certo num país são logo adotadas por outras nações.

O que se deve estranhar é que, enquanto no Brasil é defendida a privatização ou até extinção do BNDES, um dos maiores grupos industriais de China, a estatal XCMG, anuncia a criação de um banco no Brasil para competir com o BNDES no financiamento de equipamentos industriais e agrícolas.

Grupo XCMG pretende financiar por meio da instituição R$ 300 milhões em até cinco anos. Esse banco que está sendo criado no Brasil é o primeiro no mundo, porque mesmo na China, o grupo não atua no sistema financeiro

“O banco pretende ajudar muito a infraestrutura brasileira, oferecendo máquinas melhores a juros baixos”, afirmou o presidente da instituição, Wang Min, em entrevista à Folha de S.Paulo no último dia 6.

O grupo XCMG pretende financiar por meio da instituição R$ 300 milhões em até cinco anos. A criação do banco foi autorizada pela equipe econômica (leia-se: Banco Central) em outubro de 2019 e o início da operação está previsto para o primeiro trimestre deste ano.

Em novembro, a China direcionou mais de US$ 100 bilhões de pelo menos cinco fundos estatais para uma nova rodada de investimentos no Brasil. Pequim também sinalizou com uma expansão do crédito por meio de seus bancos no Brasil para competir principalmente por clientes do agronegócio e da indústria.

Em tradução simultânea, o banco chinês deve competir diretamente com o BNDES, servindo como linha auxiliar para a China dominar o crescente mercado brasileiro das máquinas agrícolas, em prejuízo da indústria nacional, cada vez mais sucateada.

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