Hoje, somam 337 mil os presos “provisórios” – 41,5% dos encarcerados. Prevê-se que se aprofunde o ciclo da prisão provisória em mais um estrangulamento no sistema, retrocesso a ser endossado pela mais alta Corte.
Numa expressão enganadora, governantes dizem controlar o crime organizado. Balela. O poder invisível festeja a barbárie sem escrúpulos. Só falta mobilizar seus “exércitos nas ruas e nos cárceres” em movimentos cívicos contra os “criminosos da política”.
Não será surpresa se parcela da população aplaudir a bandidagem do andar de baixo contra a turma do andar de cima. Afinal, a criminalidade e a impunidade são escandalosas. O ex-juiz Sergio Moro imaginou que, como ministro, poderia agregar mais força no combate ao crime. Ledo engano. O Legislativo, por conveniência, faz restrições a seus projetos. Ante a possível decisão do STF, corruptos e facínoras farão uso da protelação – recursos e embargos até eventual condenação em terceira ou última instância.
Não é de estranhar que a anomia – o descumprimento da lei – tome conta do país. Voltaremos aos idos da Colônia e do Império. Tomé de Souza, primeiro governador geral, chegou quando os crimes proliferavam. Avocou a imposição da lei e tirou o poder das capitanias. Mandou amarrar na boca de um canhão um índio que assassinara um colono. Mas o tiro não assombrou os tupinambás. Difícil evitar a desordem. Então apareceram as Ordenações do Reino (Afonsinas, Manuelinas e Filipinas), que vigoraram até 1830. Severas, com pena de morte para a maioria das infrações, o que espantou Frederico, o Grande, da Prússia. Ao ler Livro das Ordenações, indagou: “Há ainda gente viva nas terras de Portugal?” Com o tempo, castigos foram atenuados, e a criminalidade voltou.
Entre sustos e panos quentes, o Brasil semeou a cultura do faz de conta na aplicação das leis. A população ficou indiferente diante de crimes mais atrozes. Nesse ambiente floresce o poder invisível, cancro das democracias. A violência no Brasil custa cerca de R$ 300 milhões por dia, segundo cálculos antigos do ex-secretário nacional de Segurança Pública coronel José Vicente. Mas o custo emocional é impagável. Morre-se um pouco a cada dia, levando a esperança, a fé e o sonho de uma grande pátria.
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