segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Melhora econômica alimenta instinto autoritário

O populismo, inato a regimes minimamente abertos, costuma ser menos danoso quando a economia vai mal. Os rompantes de Collor, em meio à recessão, redundaram no seu isolamento.

O germe populista, reprimido no primeiro governo Lula e no curto segundo mandato de Dilma, floresceu no período intermediário, marcado por forte alta da renda.

Fernando Henrique lambuzou-se no chamado populismo cambial enquanto a população ampliava seu poder de consumo. Foram dois ou três anos suficientes para ele arrancar do Congresso a reeleição em benefício próprio.

Tudo para dizer que o desafio das instituições brasileiras de neutralizar o elemento populista e autoritário da aventura Bolsonaro vai começar para valer agora, com a perspectiva de aquecimento da atividade econômica.


“Seu Jair” vai colher os frutos de uma correção de rota que se iniciou logo após a reeleição de Dilma e envolveu esforços reformistas de três presidentes e, sobretudo, duas legislaturas na Câmara e no Senado.

A popularidade do presidente parece que, no mínimo, parou de cair. Seu apoio segue firme no Sul e no Sudeste, porção rica e populosa do país.

Não é implausível que as agressões recentes praticadas por Bolsonaro e seu círculo de lunáticos contra organizações que atuam para encabrestar a besta da tirania tenham sido animadas pelo estimulante da melhora econômica.

Daí a importância de haver reação imediata e exemplar a disparates autoritários, como a conjectura sobre a volta do AI-5.

Estoura os tímpanos o silêncio do ministro Dias Toffoli, chefe do Poder guardião dos direitos civis, a esse respeito. Também calado, o procurador-geral, Augusto Aras, reforça a imagem de docilidade ao Planalto.

Quanto mais musculoso o candidato a caudilho, maior a força que as instituições democráticas têm de fazer para mantê-lo acorrentado.

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