Nenhum cidadão no mundo recebe tantas informações jurídicas quanto o brasileiro. O noticiário fala mais sobre inquéritos, denúncias e ações penais do que sobre futebol. A maioria dos patrícios entende de leis apenas o suficiente para saber que precisaria entender muito mais. Entretanto, o noticiário e as transmissões da TV Justiça desenvolveram na plateia habilidades que permitem diferenciar certos magistrados dos magistrados certos.
Paradoxalmente, um pedaço do meio-fio expressou apoio a Bolsonaro. Fez isso de boa-fé ou por desinformação. A maioria não se deu conta —ou finge não notar— que a necessidade de blindar o filho Flávio Bolsonaro transformou o capitão num sujeito que, depois de velho, descobriu ser amigo de infância de Toffoli e Gilmar, protetores do Zero Um no Supremo. Por mal dos pecados, não há ingenuidade que sempre dure nem cinismo que nunca se acabe. A hora de Bolsonaro vai chegar.
Houve manifestações em várias cidades. Entre elas São Paulo, Rio e Brasília. Comparando-se com as de outrora, pode-se alegar que foram mixurucas. Verdade. Mas muitas tempestades também começam com um chuvisco. A providência mais óbvia seria abrir o guarda-chuva. Porém, certos despachos e liminares indicam que a segurança jurídica fornecida pelo Supremo, por invisível, virou uma espécie de guarda-chuva sem o pano que o recobre.
Na quarta-feira, o plenário do Supremo se reúne para julgar a liminar em que Toffoli, atribuindo-se poderes imperiais, trancou processos fornidos com dados do antigo Coaf em todo país —entre eles o de Flávio Bolsonaro. Antes do final do ano, a Segunda Turma da Suprema Corte julgará o pedido de anulação da sentença que condenou Lula no caso do tríplex. Por enquanto, as ruas arremessam tomates imagens de magistrados. Mas já demonstraram que sabem enviar trovões e raios que os partam.
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