Cavalgando correntezas, a goma negra e contaminante invadiu 43 praias do Rio Grande do Norte nas três semanas seguintes. O ministro Ricardo Salles viajava por São Paulo, Bonito (MT), Cartagena, Washington, Nova York, Paris e Berlim. Foi mostrar que o desmatamento da Amazônia é coisa de comunistas.
Declarou guerra na redes sociais a quem “viaja ao exterior para ficar falando mal do seu próprio país”. De Washington, escreveu: “O Brasil está se modernizando”. De Nova York, registrou: “O Brasil é exemplo de sustentabilidade!” Enquanto isso, a mancha negra se espraiava por Sergipe, levando o estado à emergência.
Quando setembro terminou, estava em Berlim. O petróleo cru já vazara em 72 municípios dos nove estados do Nordeste. Oleara dois mil quilômetros de praias, provocando inquietude na região que é um terço do país. Na volta ao Brasil, ele emitiu um autoelogio: “Estamos a serviço das boas causas em benefício dos brasileiros e do meio ambiente!”
Havia um mês de escória enlutando a costa do Maranhão à Bahia, quando anunciou: “O Pres. @jairbolsonaro determinou urgência na apuração de responsabilidades (...) Faremos vistoria in loco.” Era sábado, 5 de outubro. Ao meio-dia da segunda-feira foi a Aracaju. Lá ficou por 125 minutos— com fotos. Às 18h20 desceu em Brasília. Na Câmara, lamentou a “enorme dificuldade” (com o óleo).
Voltou a São Paulo, “com nosso querido Pres. @jairbolsonaro”, quando o petróleo já ondeava na Baía de Todos os Santos e decretava-se emergência em oito municípios.
Quarta-feira passada fez outra “vistoria nas áreas atingidas”. Novas fotos em Salvador, Maceió e Aracaju. Às 19h30, retornou a Brasília.
Passaram-se 50 dias. No rastro da inépcia, a Justiça mandou o governo federal tomar providências. O ministro Salles, agora, tem ordem judicial para trabalhar.
José Casado
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