Ele tentou uma jogada eleitoreira para o eleitorado mais conservador, e houve neste fim de semana a guerra de liminares. O ponto em questão era, como se sabe, uma revista em quadrinhos com um beijo entre dois homens. Não era para o público infantil. No Brasil, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido e homofobia é considerada, legalmente, crime. A Prefeitura mandou, duas vezes, agentes da ordem pública com policiais revistarem livrarias e estandes atrás de material com temática LGBT. O ministro Dias Toffoli, por fim, restabeleceu a liberdade, atendendo ao pedido de Raquel Dodge, da PGR. Ao recorrer ao Supremo, nos embargos, a prefeitura usou uma fake news. Falou de uma publicação que não estava à venda na Bienal.
A censura tem se espalhado de maneira assustadora. Ela teria avançado mais se a Bienal escolhesse retirar o livro para preservar o evento. A área cultural tem sofrido pressões diretas e indiretas contra feiras literárias. O governo tenta instituir o que ele chama de "filtros" a obras, mas cujo o nome real é censura. O que aconteceu na Bienal foi além do episódio em si. É uma luta pela liberdade de expressão.
O resultado da feira foi um sucesso. As vendas foram fortes. As mesas de discussão debateram inúmeros assuntos contemporâneos, entre eles a própria tentativa de censura. Esteve lá o autor do livro “Como as democracias morrem”, Steven Levitsky. Ele tomou um susto quando viu a polícia e os agentes da polícia entrarem. Ele estava lá quando houve a segunda entrada, no sábado. Mas ele também se impressionou com o tamanho da feira. Naquele sábado, 100 mil pessoas foram lá para comprar livros e debater ideias.
A Bienal reagiu de forma corajosa. A defesa da liberdade de expressão é fundamental, não se pode transigir nisso. Houve inclusive uma manifestação com pessoas carregando livros e falando “Censura não”. A resposta veio da feira, dos autores e também da sociedade. Foi um importante momento em defesa da liberdade de expressão no Brasil.
A Bienal do Rio é o maior evento literário do país. Nesta edição, recebeu 600 mil visitantes, que compraram 4 milhões de livros.
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