terça-feira, 10 de setembro de 2019

Em Bienal histórica, venceu a liberdade de expressão

O episódio da censura a uma publicação exposta na Bienal vai muito além da feira de livros. A decisão da Bienal de reagir de forma vigorosa e corajosa contra as tentativas de censura marca a luta que está sendo travada contra o obscurantismo e a favor democracia e da liberdade de expressão, que são conquistas da sociedade. Não foi uma briga contra o prefeito. Aliás, um prefeito que vive de costas para a cidade, que sabota todos os eventos importantes do Rio. E tem péssimo desempenho.

Ele tentou uma jogada eleitoreira para o eleitorado mais conservador, e houve neste fim de semana a guerra de liminares. O ponto em questão era, como se sabe, uma revista em quadrinhos com um beijo entre dois homens. Não era para o público infantil. No Brasil, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido e homofobia é considerada, legalmente, crime. A Prefeitura mandou, duas vezes, agentes da ordem pública com policiais revistarem livrarias e estandes atrás de material com temática LGBT. O ministro Dias Toffoli, por fim, restabeleceu a liberdade, atendendo ao pedido de Raquel Dodge, da PGR. Ao recorrer ao Supremo, nos embargos, a prefeitura usou uma fake news. Falou de uma publicação que não estava à venda na Bienal.
 

A censura tem se espalhado de maneira assustadora. Ela teria avançado mais se a Bienal escolhesse retirar o livro para preservar o evento. A área cultural tem sofrido pressões diretas e indiretas contra feiras literárias. O governo tenta instituir o que ele chama de "filtros" a obras, mas cujo o nome real é censura. O que aconteceu na Bienal foi além do episódio em si. É uma luta pela liberdade de expressão.

O resultado da feira foi um sucesso. As vendas foram fortes. As mesas de discussão debateram inúmeros assuntos contemporâneos, entre eles a própria tentativa de censura. Esteve lá o autor do livro “Como as democracias morrem”, Steven Levitsky. Ele tomou um susto quando viu a polícia e os agentes da polícia entrarem. Ele estava lá quando houve a segunda entrada, no sábado. Mas ele também se impressionou com o tamanho da feira. Naquele sábado, 100 mil pessoas foram lá para comprar livros e debater ideias. 

A Bienal reagiu de forma corajosa. A defesa da liberdade de expressão é fundamental, não se pode transigir nisso. Houve inclusive uma manifestação com pessoas carregando livros e falando “Censura não”. A resposta veio da feira, dos autores e também da sociedade. Foi um importante momento em defesa da liberdade de expressão no Brasil.

A Bienal do Rio é o maior evento literário do país. Nesta edição, recebeu 600 mil visitantes, que compraram 4 milhões de livros.

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