quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O que as trapalhadas de Bolsonaro indicam sobre o futuro

Como disse, com humor, certa vez um político dinamarquês, é sempre difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro. No governo de Jair Bolsonaro, a tarefa de pensar em cenários ganha um grau de complexidade fora do comum. Alguém poderá argumentar que as ações do presidente da República não são assim tão difíceis de prever. Bolsonaro falava em favor das armas na campanha e, uma vez no Planalto, trabalhou para entregar pelo menos parte do que prometeu. Bolsonaro passou toda a carreira fazendo piadas de gosto duvidoso e continuou fiel a seu estilo quando chegou de mudança ao Palácio do Alvorada. O discurso homofóbico foi outro que se manteve inalterado. O mesmo aconteceu com as declarações em favor da exploração da Amazônia.

Mas quem diria que, oito meses após a posse, Bolsonaro teria conseguido colocar fogo numa briga com o presidente francês Emmanuel Macron, o que acabou trazendo à tona uma proposta de revisão da soberania brasileira na Amazônia. Essa, imagino que ninguém tenha antecipado — pelo menos, não em tão pouco tempo. Na área do combate à corrupção, o presidente deu um cavalo de pau. Na campanha, apresentou-se como o defensor da lei e da ordem. No poder, tem feito de tudo para tentar livrar o filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), de investigações. Levou Sergio Moro para o Ministério da Justiça “com carta branca”, para depois ameaçar mudar a cúpula da Polícia Federal — justo a PF — à revelia do ex-juiz.

Na área econômica, terceirizou tudo nas mãos de Paulo Guedes . O czar da economia tem se mostrado orgulhoso porque sua proposta de reforma da Previdência passou na Câmara — ainda espera votação no Senado. Mas o caminhão de investimentos que viriam para o Brasil não se materializou, o crescimento do PIB neste ano deverá ficar abaixo do 1% (pior do que no governo Temer) e mais de 12 milhões de brasileiros continuam sem emprego. Quando é cobrado por essa situação, Bolsonaro costuma dizer que é para falar com Guedes.

Pessoas que estiveram nas últimas semanas com o ministro da Economia saíram com a impressão de que ele acalenta o desejo de repetir o feito de Fernando Henrique Cardoso. Ministro da Fazenda de Itamar Franco, FHC pavimentou sua candidatura à Presidência depois do sucesso do Plano Real. Assim como o líder tucano no passado, Guedes tem ouvido elogios a sua agenda econômica quando circula em aeroportos e eventos frequentados por empresários.

O ministro da Economia como opção de candidato presidencial em um país cansado das trapalhadas de Bolsonaro? Esse é o cenário benigno para Guedes. Mas também há a possibilidade de ele acabar sendo defenestrado antes de 2022 se ficar claro que a economia não vai decolar — “o último prego no caixão do liberalismo brasileiro”, como já previu um grande empresário que pediu para não ter seu nome revelado com medo de represálias. Será? Na mesma linha do político dinamarquês, o humorista americano Groucho Marx uma vez disse que o problema das previsões é que elas são todas sobre o futuro.

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