terça-feira, 13 de agosto de 2019

O jeito de ser

O Presidente Bolsonaro diz que não vai mudar e que não tem estratégia. Jeito de ser é uma forma mais popular para definir estilo. Cada um tem o seu. Quando esta afirmação ocorre na esfera privada, causa estranheza porque tudo muda. Se ocorre no espaço público, soa ameaçadora.

A palavra e a ação do governante têm consequências, afetam diretamente a vida de milhões de pessoas. Apesar dos defeitos, a democracia liberal tece uma institucionalidade que limita o poder e protege o cidadão dos excessos e abusos dos governantes. A afirmação presidencial nos remete à máxima de Zagalo, ao conquistar a Copa América, 1997, em resposta aos críticos: “vocês vão ter que me engolir”.




Não é bem assim. A maior virtude da democracia é definir o prazo de validade dos governos e possibilitar saídas legais para as crises políticas. Estão na Constituição que assegura o princípio de liberdade de expressão e permite o exercício do pensamento crítico.

De outra parte, a sequência de declarações afronta instituições e resvala do campo político para ofender doloridos sentimentos pessoais. E o mais grave: desmente a não estratégia quando diz que fala para um segmento da população onde se agrupa a extrema direita.


Se, de fato, a intenção é recuperar um país em crise, este não é o caminho adequado. O ambiente de confronto vai na direção oposta do que almejam os investidores: estabilidade político-institucional, segurança jurídica e reformas estruturais. Vale registrar os avanços alcançados no campo econômico, decorrentes de um curioso arranjo informal em que doses de parlamentarismo mitigam o presidencialismo imperial e fazem andar a agenda de interesse nacional.

Enquanto no mundo real cada dia é uma agonia, no plano teórico, cabeças pensantes analisam o perfil doutrinário de Bolsonaro e chegam a um consenso: populista de direita, candidato a autocrata a exemplo de vários países em que a autocracia tomou o poder pelo voto.

E não dá para injuriar os liberais. Neste sentido, vale recorrer a Vargas Llosa no primoroso e recém-lançado livro, O chamado da tribo: “O liberalismo é uma doutrina que não tem respostas para tudo, como pretende o marxismo, e admite em seu seio a divergência e a crítica a partir de um corpo pequeno, mas inequívoco de convicções (…) A liberdade é um valor supremo (…) é uma só e numa sociedade genuinamente democrática deve se manifestar em todos os domínios – econômico, político, social e cultural”. 

Gustavo Krause 

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