Penso que só as crianças em sua inocência podem desfrutar de semelhante condição. Ou os adultos que não amadureceram. Ou os que vieram ao mundo só para confundir (alô, alô, seu Chacrinha!). Ou ainda gente do tipo Jair Bolsonaro que se vê de repente incumbida de uma missão para a qual jamais se preparou.
Incumbido de uma missão que nunca teve no seu radar. No radar do capitão, depois de 30 anos como deputado do baixo clero, estava o plano de disputar a presidência da República para apenas garantir a eleição ou reeleição dos seus três garotos, sem se esquecer do quarto, por ora em fase de treinamento intensivo.
“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” foi um bom slogan de campanha, longe, porém, de refletir o que de fato importa a Bolsonaro, o que sempre importou. Acima de tudo para ele está o empreendimento comercial da sua família, uma mistura de política com negócios. Vá lá que Deus possa ficar acima de todos.
Quando chegará o dia de se conhecer a lista por enquanto incompleta de parentes do capitão, e dos parentes dos parentes dele que Bolsonaro e seus filhos empregaram sem nenhum pudor em gabinetes da Câmara dos Deputados, da Assembleia Legislativa do Rio e da Câmara Municipal do Rio? O povo tem direito a saber.
Causará espanto quando se tornar conhecida. Ela deixará em estado de choque as almas mais sensíveis. Fará certos corpos de políticos do passado se revirarem nos túmulos. Porque eles também empregaram parentes à falta de regras sobre nepotismo. Mas nenhum deles como Bolsonaro apesar das regras.
Na maioria das ocasiões, Bolsonaro se comporta como o sub do Trump. Ou se for um exagero, como o sub, do sub, do sub de Trump. É por isso que o presidente americano tanto gosta dele como confessa. Na verdade, Tump gosta de Trump. É também por isso que Trump disse o que disse ontem.
Interpelado por uma jornalista brasileira depois de ter concedido uma entrevista coletiva à imprensa, Trump derramou-se em elogios a Eduardo, o Zero Três de Bolsonaro, e aprovou sua indicação para embaixador do Brasil em Washington. A história da diplomacia brasileira não registra nada de parecido com isso.
O presidente americano foi além. Para ele, a indicação do garoto não configura nepotismo. Como nepotismo não é o fato de a Casa Branca abrigar como assessores de Trump sua filha Ivana, empenhada em aumentar a própria fortuna, e o genro, um homem de negócios. Money, money, money, é o que move o mundo.
Tal desfaçatez ainda não é permitida por estas bandas à luz do dia. Bolsonaro quis fazer do filho Carlos, o Zero Dois, seu ministro da Comunicação. Esbarrou na oposição de auxiliares. Mas a nomeação de Eduardo abrirá uma brecha por onde mais adiante poderá passar um monte de coisas. É só esperar para ver.
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