Mas atualmente existem perigos que não são tão fáceis de se enxergar – especialmente na estrutura viral da internet: pessoas e, cada vez mais, robôs espalham mentiras, vídeos falsos e fotos com o objetivo de manipular.
Notícias falsas, campanhas de desinformação nas mídias sociais, calúnias e ameaças se tornaram práticas cotidianas, gerenciadas cada vez mais por profissionais de comunicação reais. Por exemplo, na RT (Russia Today) e ultimamente também na Al Jazeera, infelizmente, a comunicação parece amigável, às vezes até engraçada e espirituosa. Num mundo complicado, elas seduzem com uma oferta de simplificação.
Além disso, cada vez mais Estados estão tentando transformar a cosmopolita internet em uma intranet censurada do país. Observa-se isso no Irã, na China, na Rússia e na Turquia.
Há apenas uma resposta para isso: as pessoas devem aprender a diferenciar a mentira da verdade. Essa educação midiática deve tornar-se parte integrante do currículo escolar, e deve haver ofertas atraentes para adultos. Ofertas em que se deve ensinar que, no final, não só a liberdade dos meios de comunicação está ameaçada, mas também, potencialmente, a liberdade de se poder expressar a opinião no espaço "privado", sem medo de repressões.
Políticos democratas de todo o mundo, incluindo os da Europa e da Alemanha, se superam uns aos outros numa tentativa de cortejar a China. Não se importam com o fato de a liberdade de imprensa não existir nesse país e de que ofertas independentes de emissoras estrangeiras, como a da Deutsche Welle, são bloqueadas por lá. Quando se trata da China, representantes do empresariado pensam mais num grande negócio do que nos direitos humanos.
Também quando se trata do Irã, são as oportunidades econômicas que costumam ser discutidas, e não os mais de 20 jornalistas submetidos às prisões e torturas da Guarda Revolucionária. Em Bangladesh e no Paquistão, blogueiros arriscam suas vidas ao escrever criticamente sobre o crescente islamismo em seus países. E sequer uma palavra de apoio vem do exterior. O mundo exalta o príncipe herdeiro da Arábia Saudita porque as mulheres têm permissão para ir ao cinema, a estádios esportivos e agora até podem dirigir carros. Mas onde está o clamor contra o fato de o blogueiro Raif Badawi ainda estar numa prisão saudita?
A lista é muito longa. É uma lista triste. E hoje é um bom dia para que as pessoas se comprometam a avaliar os políticos pelo que eles estão fazendo contra os crescentes ataques à liberdade de imprensa. Diante de ditadores, eles ressaltam, de forma clara, quais são nossos valores? Eles estariam dispostos a desistir dos negócios caso esses valores fossem flagrantemente violados? Eles condicionam a doação de assistência ao desenvolvimento à situação dos direitos humanos e da liberdade de imprensa?
A liberdade de imprensa não é concedida somente a partir de cima. A situação legal é uma coisa, a atitude interior de cada jornalista é outra. Especialmente jornalistas de países com um sistema de mídia liberal devem servir de modelo aos colegas que trabalham em circunstâncias difíceis.
Para mim, ser jornalista significa sempre desconfiar das próprias crenças – ou da dos colegas – e sempre questionar a própria certeza. E, sim, também não ter medo de receber aplausos do lado errado. Eu, por exemplo, vejo com grande preocupação a discussão sobre se nós, na Alemanha, deveríamos conversar também com políticos do partido populista de direita AfD (Alternativa para a Alemanha). Ao ignorarmos grupos políticos inteiros, políticos desagradáveis ou outras figuras públicas que não se encaixam em nossa visão de mundo, deixamos uma lacuna que pode então ser preenchida por outros.
E com isso prejudicamos a liberdade de imprensa, que queremos celebrar nesta sexta-feira.
Ines Pohl, editora-chefe da Deutsche Welle
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