O texto do “país ingovernável” já foi esmiuçado de todas as formas pelos analistas da mídia. Mas alguns aspectos devem ser destacados. O mais importante é o fato concreto e inquestionável de que o presidente Jair Bolsonaro continua alvo fácil das teorias conspiratórias. Chega a ser uma fixação, que a partir das eleições vem contaminando toda a família Bolsonaro. No próprio Palácio do Planalto, desde a posse há um indisfarçável clima de constrangimento, que se agravou com a desmotivada demissão de Gustavo Bebianno, por ter aceitado receber em agenda o diretor institucional da Rede Globo.
Este foi o verdadeiro motivo, nada a ver com as candidatas laranjas do PSL em Minas Gerais e Pernambuco, nem com irregularidades que não eram da alçada de Bebianno como presidente do partido, ele não se envolvera em nenhuma irregularidade.
Instigado pelos filhos e por Olavo de Carvalho, o presidente decidiu demitir o ministro, que nada tinha a ver com o problema, era seu amigo pessoal e até advogado gratuito. Quando foi alertado por outros ministros para o fato de não haver motivo, porque nas democracias os governantes recebem normalmente representantes e membros da sociedade civil, o presidente caiu em si e ofereceu a Bebianno uma diretoria na Itaipu Binacional ou as Embaixadas em Roma e Lisboa, a escolher. Bebianno não aceitou e foi cuidar da vida.
A partir daí, foi uma bola de neve e Bolsonaro passou a viver por conta do golpe. Esse raciocínio conduz, logicamente, ao contragolpe. E são duas hipóteses absurdamente antidemocráticas, das quais não se pode nem cogitar.
Ao apoiar o texto do “autor desconhecido” Paulo Portinho, que exibe um “país ingovernável”, sem dúvida Bolsonaro está tácita e taticamente apoiando um contragolpe, que significa a derrocada das instituições.
Bolsonaro não prima pela inteligência, talvez nem perceba o que está fazendo. Mas o fato é que ele se dedica mais intensamente às teorias conspiratórias do que às necessidades de governo. Com isso, sua gestão está imobilizada, à espera das decisões do Congresso.
O amadorismo e a infantilidade de Bolsonaro causam espanto. Ele acha que, culpando o Judiciário e o Legislativo, estará preservando sua própria imagem e também a do Executivo. Mas não é assim que a coisa funciona.
Seu principal auxiliar, o ministro Paulo Guedes, também não sabe o que fazer e defende premissas falsas. Diz que a reforma da Previdência não somente vai aliviar o problema da dívida pública, como atrairá investimentos externos que reduziram o desemprego, e nada isso não e verdade.
Guedes não percebe que, com um governante instável como Bolsonaro, jamais haverá corrida de investidores, porque eles exigem exatamente o contrário – a estabilidade.
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