Há dois Bolsonaros na praça. Um é rápido. Outro, lento. O primeiro levou poucas horas para festejar, em 4 de abril, a ação policial em que agentes da Rota passaram nas armas 11 bandidos que tentavam assaltar dois bancos na cidade de Guararema, em São Paulo. "Parabéns aos policiais da Rota", apressou-se em escrever o presidente nas redes sociais. "Onze bandidos foram mortos e nenhum inocente saiu ferido. Bom trabalho", ele declarou.
O segundo Bolsonaro, o lento, não disse uma palavra sobre a lambança que uma patrulha do Exército fez no Rio de Janeiro no último domingo. Os soldados crivaram de balas o carro do músico Evaldo Rosa. Ele se dirigia a um chá de bebê. Estavam com ele no carro uma mulher, um idoso e duas crianças. Foram disparados 80 tiros. Evaldo morreu. Vai fazer uma semana e o capitão não deu um pio. Nem nas redes sociais nem fora delas.
Além de ser executado, Evaldo foi chamado de criminoso pelo Comando Militar do Leste. Em nota oficial, a unidade do Exército acusou o músico de atirar contra a patrulha, que reagiu "à injusta agressão." Era notícia falsa, admitiria o Exército na manhã seguinte, antes da prisão de uma dezena de soldados. E Bolsonaro ainda não reprovou a execução. Tampouco deu pêsames à família. Nada.
Bolsonaro, como se sabe, defende que policiais civis e militares tenham liberdade para matar bandidos sem sofrer punição. Sergio Moro incluiu no seu pacote anticrime a regra segundo a qual um juiz pode deixar de impor penas a agentes públicos quando o "excesso (pode me chamar de tiro) decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção".
Se fosse um presidente razoável, Bolsonaro já teria declarado que uma família a caminho de um chá de bebê não inspira "medo" ou "surpresa" capaz de produzir a "violenta emoção" de 80 tiros. O silêncio do capitão soa como aval, piorando uma situação que já é deplorável.
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