Oito dias depois, estava eleito. Perguntaram-lhe sobre a reeleição e ele fez a primeira ressalva: “A possibilidade de não concorrer à reeleição é se conseguir fazer um acordo para aprovar a reforma política. Não é apenas ‘eu não vou concorrer à reeleição.’”
Por gestos e palavras, sugere ter se rendido à síndrome do Planalto — transe no qual o presidente, já no primeiro dia, se incorpora num novo mandato. Assim foi com Fernando Henrique, Lula e Dilma. Com Bolsonaro não é diferente.
“A pressão está muito grande para, se eu estiver bem (de saúde), me candidatar à reeleição”, ele contou dias atrás ao repórter Augusto Nunes. Com três décadas na política, e tendo garantido a dinastia na folha do Legislativo, Bolsonaro dissimula sobre a origem da “pressão” para descumprir sua promessa — se íntima, familiar ou dos acólitos.
Deixa escapar alguma culpa ao sugerir que vestígios da jura de candidato ainda pairam na sua memória. Talvez aflito com a possibilidade de que negligência o deprecie, continua a falar em “uma reforma política”, mas salteia a reeleição. Projeta uma redução do tamanho da Câmara, do Senado e, por consequência, das assembleias estaduais e câmaras municipais. Arremata, como se falasse para si mesmo: “Se essa proposta me custar a reeleição, eu assino.”
Contratos verbais não valem a tinta com que são assinados, ensinava o lendário produtor hollywoodiano Samuel Goldwyn (nascido Schmuel Gelbfisz em 1882). Não custa estimulá-lo: assina, Bolsonaro!
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