Nunca um presidente conseguiu queimar tanto capital político trazido das urnas em tão pouco tempo como Jair Bolsonaro. Nem os dois presidentes brasileiros efetivamente afastados do poder nos últimos 30 anos estavam tão mal assim cedo. Dilma Rousseff foi reeleita e inaugurou seu segundo mandato com apoio popular e parlamentar, e seguiu assim até a descoberta de suas pedaladas. Fernando Collor, o homem que sufocou o país ao congelar as contas bancárias dos brasileiros, só perdeu apoio quando suas maracutaias tornaram-se públicas.
Tampouco Michel Temer, que chegou ao Palácio pela via indireta e com o país dividido, estava atolado no segundo mês de seu mandato tampão. A hipótese de cassação do mandato de Temer só foi cogitada depois daquela conversa cavernosa no Palácio do Jaburu com o empresário Joesley Batista. Lula e Fernando Henrique também foram objeto da mesmo especulação. Mas Lula, no terceiro ano do primeiro mandato, no auge do mensalão. E FH na discussão da emenda da reeleição, acusado de comprar votos no Congresso. Nenhum ao final do 2º mês.
Hoje, as pessoas falam abertamente sobre o impeachment de Bolsonaro. E por quê? Porque o presidente deu margem, deu corda, alimentou e segue alimentando a discussão sobre seu próprio futuro. Cada besteira dita por ele multiplica o debate sobre o seu afastamento. Somente nesta semana, por duas vezes o presidente espantou os brasileiros, mesmo aqueles que votaram nele com convicção. O Twitter do carnaval e a declaração de que a democracia só existe porque as Forças Armadas querem causaram estupefação no país.
Mas, por mais grosseiro e equivocado que tenham sido o post do“goldens-hower” e o discurso da democracia, não se configurou até aqui qualquer elemento legal para o afastamento do presidente. Tampouco se reúne por ora motivação política para o seu impeachment. Mas isso não impede que as pessoas falem. Frases ouvidas nos últimos dois dias: “Ele não vai concluir o mandato”; “Bolsonaro não aguenta muito tempo”; “Não chega ao fim do ano”; “Os militares não vão deixar ele continuar”.
Está cada vez mais claro que o presidente precisa parar de fala reproduzir tanta bobagem. Se continuar atentando contra si próprio a cada dez dias, Bolsonaro poderá acabar encontrando o seu destino. Deu para ver que as coisas vão mal pelo semblante do ministro Augusto Heleno ao tentar explicar o último discurso infeliz do chefe. Heleno era, até há pouco tempo, um homem feliz. Nos dias seguintes à posse, sua fisionomia era de encantamento. Hoje, o ar é de desilusão.
Nem mesmo o sempre bem-humorado vice-presidente Mourão consegue esconder o desconforto com Bolsonaro. O homem que deveria ser o dono da última palavra, tem que ser seguidamente corrigido por subordinados e assessores. A palavra do presidente virou a penúltima, lamentavelmente. Mourão e Heleno são os dois que fazem as conclusões do governo, tentando encontrar interpretações favoráveis aos equívocos presidenciais
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