quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Peruanos punem nas urnas os envolvidos com a Lava Jato

“O Peru é um mendigo sentado em um banco de ouro”, dizia Giovanni Antonio Raimondi Dell’Acqua (1824-1890), cientista ítalo-peruano, um dos principais acadêmicos do Peru no século XIX. Dell’Acqua referia-se às grandes riquezas que o Peru gerava e à simultânea pobreza generalizada por causa da imensa corrupção que assola o país desde os tempos coloniais. No entanto, pela primeira vez em sua história, os eleitores do país decidiram dar uma lição aos políticos envolvidos nos mais retumbantes casos de corrupção do último quarto de século — primordialmente as propinas pagas pela Odebrecht no Peru — e os castigaram nas eleições para prefeitos e governadores dos 25 departamentos (equivalentes a estados) do Peru realizadas no domingo 7.

Os vitoriosos nas urnas foram partidos regionais — formados por políticos locais nas diversas regiões do país — e os velhos partidos políticos que haviam ficado de escanteio nas últimas décadas, como o Ação Popular, outrora liderado pelo ex-presidente Belaúnde Terry (1963-1968 e 1983-1985). Os peruanos afirmam com ironia que alguns partidos antigos estavam tão esquecidos nos últimos 15 anos — o período mais intenso das propinas — que nem sequer foram levados em conta pela Odebrecht como ‘‘potenciais políticos a subornar’’.

Kuczynski fez partido dançar nas urnas
Em dezembro de 2016, a empreiteira brasileira Odebrecht admitiu perante a Justiça dos Estados Unidos que pagou US$ 29 milhões em propinas entre 2005 e 2014 a autoridades peruanas para obter contratos de obras públicas. Esse período coincidia com os governos de três ex-presidentes: Alejandro Toledo, Alan García e Ollanta Humala. Durante essas três administrações, a empreiteira brasileira obteve contratos de US$ 12 bilhões no Peru.

Entre os grupos políticos envolvidos na edição peruana da Lava Jato derrotados nas urnas está o Peruanos pela Mudança, fundado pelo ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski (2016-2017), partido que há dois anos aspirava a crescer graças à chegada de seu líder à Presidência.

Denunciado na Justiça no ano passado, Kuczynski tentou negar vínculos com a Odebrecht. Mas admitiu que sua consultoria havia realizado trabalhos de assessoria para a empreiteira quando era ministro do presidente Toledo. PPK, como é conhecido, foi alvo de uma tentativa de impeachment em dezembro, que fracassou. Em março, perante outra ameaça de destituição, renunciou.

Nestes últimos sete meses, seu partido encolheu e saiu arrasado das eleições municipais e departamentais, obtendo apenas 0,4% dos votos para a prefeitura de Lima, seu principal reduto político.

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