Às vezes essas revistas eram mais caras do que livros, e eu fazia ginástica mental para justificar a despesa. Algumas, como a “PC Magazine” ou a “Byte”, eram fundamentais para o meu trabalho; outras, como a “Vanity Fair” ou a “Architectural Digest”, eram fundamentais para que eu não virasse uma pessoa monotemática, inteiramente absorvida pelo trabalho. Eu precisava da “Travel + Leisure” para saber aonde ir (ou de onde fugir) e da “The Economist” para entender o mundo. Comprava as francesas para não esquecer o meu francês, e as italianas porque precisava melhorar o meu italiano. As brasileiras, de que perdi a conta, se justificavam sozinhas: eram, afinal, parte da minha profissão.
Sentia uma ponta de culpa quando via as pilhas parcialmente lidas pelos cantos, e jurava que ia me emendar a partir da próxima semana; mas aí passava por acaso numa banca, e mais uma vez não resistia àquela festa.
Harold Knight |
Eu vinha aos Estados Unidos — escrevo esta semana de Nova York — e morria de inveja dos americanos. Não pelo país ou pelo estilo de vida, mas pelas bancas de jornais. Em algumas era possível encontrar, e talvez ainda se encontrem, publicações de toda parte. Eu passava horas folheando páginas em que não entendia uma única palavra só para ver como eram feitas, e para descobrir, pelas fotos, o que interessava às pessoas de outros países. Saía carregada, mas essas eram despesas fáceis de justificar: onde eu encontraria aqueles tesouros?
Já não lembro mais, porém, quando foi a última vez que pisei num desses admiráveis resumos do mundo. Continuo viciada em revistas, só que hoje leio as suas versões digitais. Não sei se estou feliz com a troca, mas é assim; meus hábitos, como os de tantos outros leitores, mudaram radicalmente com a internet. Sinto falta de folhear as páginas mágicas e coloridas mas, paradoxalmente, não sinto a menor falta da papelada. Tenho duas estantes cheias de antigos exemplares da “Wired” e da “National Geographic” (nunca consegui jogar fora uma “National Geographic”), mas entendo que o seu tempo passou.
Hoje talvez até leia mais do que lia, mas com certeza gasto bem menos.
Essa equação cruel é o grande desafio para os grupos editoriais — e é o terror da minha categoria profissional, que, em certos momentos, me parece uma espécie em extinção. O fim simultâneo de tantos títulos da Abril, esta semana, me pareceu um incêndio numa floresta, uma tsunami, o fim dos tempos. Não preciso que boas publicações sobrevivam apenas como jornalista; preciso sobretudo como leitora. Mas de onde vai sair o dinheiro para a produção das revistas se os leitores relutam em pagar por informação na rede?
Leo Aversa, tão bom cronista quanto fotógrafo, resumiu a situação como ninguém:
“Cada vez que leio notícias de jornais e revistas fechando me sinto como um urso polar vendo o gelo derreter.”
Cora Rónai
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