sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A vida cruel dos políticos

O governador Luiz Fernando Pezão parece amargurado com a política. A cinco meses do fim do mandato, ele conta os dias para passar o cargo adiante. Quando encontra o prefeito Marcelo Crivella, brinca que foi camarada ao derrotá-lo nas urnas: “Te livrei de uma, hein?”.

Pezão tem motivos para reclamar. O estado quebrou, a segurança saiu de controle e seu padrinho político foi preso. No entanto, ele prefere eleger outro alvo: os órgãos de fiscalização.


Em entrevista à Folha de S.Paulo, o governador protestou contra o “excesso de poder” de quem vigia o cofre. “Você tem que prestar contas a tantos órgãos que ficou inviabilizado ser Executivo”, queixou-se. “Você pendura seu CPF para trabalhar, pô. TCU, TCE, CGU, MP Federal, MP Estadual, TRE, TJ, não sei”.

Às vésperas das eleições, Pezão despejou água fria sobre os candidatos que pretendem vencer. “Se você for para um cargo público, você apanha de tudo que é jeito”, disse. Ele arrematou a lamentação com uma pérola: “Acho muito cruel a vida do político”.

Reclamar dos órgãos de controle é um velho hábito dos governantes. Nos “Diários da Presidência”, Fernando Henrique Cardoso escreveu que o TCU tinha “mentalidade burocrática antiquada”. O ex-presidente Lula repetia que JK não teria construído Brasília em cinco anos se o tribunal já existisse.

No caso de Pezão, parece exagero reclamar dos fiscais. Durante oito anos, seu antecessor saqueou o estado sem ser incomodado. Ao prendê-lo, o juiz Marcelo Bretas anotou que a roubalheira passou “despercebida” pelos órgãos de controle estaduais. A vida que Sérgio Cabral levou no poder pode ser contada com múltiplos adjetivos. Menos “cruel”.

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