E aí não há meio termo. São tempos em que o preço da paz é a negociação com o crime. Em que o Estado ou é bandido ou é refém da bandidagem.
Algo sabido, agora escancarado ao mundo com a execução brutal da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Enquanto milhares ocupavam as ruas do centro do Rio e de várias cidades do país, Ágatha, a viúva de Anderson, dava um depoimento simbólico: “a revolta existe, mas a dor é maior. Estamos imersos nisso que está acontecendo. Estamos nos acostumando. Como dizem, é mais um. São várias pessoas nessa mesma situação no Rio de Janeiro”.
É mais um.
Diante desses números, difícil falar em ordem institucional ou mesmo em democracia.
Mais difícil ainda é travar o tão necessário debate racional frente a tantos oportunistas. No caso de Marielle, tão despudorados que deveriam envergonhar os interlocutores. Nas redes sociais, as discussões entre os extremos sobre o crime causam náusea e alimentam desesperanças de que a violência contra ela possa, como torcem as pessoas de bem, induzir mudanças de fundo de que o país tanto necessita.
Rápido no gatilho, o PSOL, partido de Marielle, pediu à Suprema Corte a suspensão da intervenção federal na segurança do Rio, corroborando a tentativa da esquerda de jogar a morte da vereadora no colo do presidente Michel Temer.
Autoridades públicas repetem mesmices. No dia seguinte à barbárie, não faltaram brados de repúdio, de Temer aos ministros do STF, dos parlamentares ao Ministério Público. Foram criadas comissões de acompanhamento do caso na Câmara e no MPF, falou-se até de federalização das investigações. Tudo parecido ao que se disse na execução, também icônica, da implacável juíza Patrícia Acioli, há sete anos, em Niterói.
Tudo que nada é.
Nada que políticos, ministros, juízes ou promotores dizem dialoga com um país que rejeita seus dirigentes, não confia na Justiça e teme a polícia.
Esse é o alerta embutido nos gritos dos que foram às ruas por Marielle. Seria melhor ouvi-lo.
Mary Zaidan
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