Avenida dos álamos, Vincent van Gogh (1884) |
O táxi avança, a avenida é longa. De repente, no canteiro, uma fila de mudinhas recém-plantadas. O taxista explica: aqui já iniciaram o replantio, fez-se necessário. Mas, e o VLT, desistiram dele? Não, ninguém detém o desenvolvimento, juram que o trem vem aí, e logo será hora de cortarmos também estas mudas. Rimos. Fossem árvores de dinheiro, pés de verba, estariam salvas, a gente sabe, e saber às vezes cansa. Por isso mesmo é que entre nós se instaura um minuto de silêncio. Pela pobreza dos arvoredos.
É, diz o taxista, não sei o que é pior, ser gente ou ser árvore. E fala de um tempo em que a cidade tinha mangueiras em todos os quintais. Mas os quintais foram vendidos, e as mangueiras sumiram. Antes, cada família tinha a sua, e a vida se consumia à sombra dela, menos na época das mangas, é claro, pois ninguém era besta de ficar embaixo de mangueira carregada. Rimos de novo.
O taxista me desafia: sabe do que tenho saudade? Por não saber, me calo, e ele sorri. Saboreia o suspense como se chupasse uma rara fruta do cerrado. A conversa, para este homem, é uma barganha entre ricos negociantes, toda palavra é lucro. Entro no jogo, o senhor me diga já, sente saudade do quê? E ele: é de cajá-manga!
Nunca vi, nem cheirei, nem comi. Porém aceito tudo o que o taxista me conta sobre esse tesouro de sua infância, passada não sei onde. Estou inclusive convencido de que o cajá-manga é a melhor coisa do mundo.
Pouco depois, no centro de Cuiabá, caminho sem pressa, o calor me espremendo contra os velhos casarões. Ruas estreitas, gente atarefada, um clima de mercado arcaico, de alegre comércio, com que logo simpatizo. Mas é meio-dia e o sol me vence. No calçadão, encontro um banco, ao lado duma palmeira ainda pequena, da minha altura, e que me convida a sentar com ela. Obedeço.
É preciso paciência, me diz a árvore, um dia a sombra se avoluma. Regido por um desejo de descanso, refrigério e cajá-manga, concordo e me deixo relaxar sobre a madeira, à espera dos progressos desta boa palmeirinha, no centro geodésico da América do Sul.
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