É preciso aprender que somos feitos da matéria original, que, mal-encaixada, pode ser explosiva, mortal, desumana. Quantas vezes, esquecidos que somos, nós brincaríamos de deuses e, por castigo, regrediríamos a fases grotescas.
Na comunidade escolar, pais eram convocados a partilharem suas vivências e comungar suas sabedorias e, junto aos demais funcionários escolares, promoverem um ambiente sadio e agregador da matéria chamada “Vida”. E assim foi desde os tempos bíblicos, passando por civilizações gloriosas, como a egípcia, a grega e a romana, a há algumas poucas décadas.
Isso até que o vírus da tecnologia barata, da informação viciante e rasteira, sequestrou não só a mente de potencial infinito dos jovens, mas devastou os limites básicos da ética, do respeito, da noção de hierarquia. Feras com telas nas mãos destroem intimidades em covardes ataques de bullying, desprezam o conhecimento, pois teclam o oráculo Google, e ingênuos acreditam em redes e se aditam a elas.
Almas penadas virtuais vagam pelas escolas reais, num deprimente espaço paralelo hostil. Não, eu me recuso a falar hoje sobre a banalização sexual com nudes, pegações, sexies, drogas e álcool como se fossem refrigerantes. Exalto as exceções, as escolas que deram show no Enem, como as do Nordeste. Há vida em Marte. Peço que os bons alunos, pais, professores e funcionários não desistam: um novo tempo virá! Entrincheirem-se, resistam. Educadores vão para o céu!
Enquanto isso, o SUS. Sofredores físicos, psíquicos e espirituais se aglomeram na porta do purgatório. A senha podem ser da mãe desesperada com a febre e a tosse do bebê ou o hipocondríaco querendo fazer o centésimo exame de coração, quando, na verdade, é preciso alguém que o ouça em sua viuvez e solidão. Ou uma jovem caladinha, com uma dor estranha no abdome, que nem reagiu ao saber que era número 58, morrerá às cinco da manhã, aos 36 anos, de infarto, sem nem ser atendida. Faltam médico, remédio, exames, humanidade. Falta verba desviada para mansões, jatinhos, sítios, contas na Suíça. Porteiros se vestem como guardas, enfermeiras insones e nervosas, fazem o papel de juízas da vida. “Esse entra no posto, esse vai pro céu”.
Vivemos a Idade Média moderna, esperando um renascimento. Mãos à obra!
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