sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Quem enfiou a faca na inflação baixa

Fica cada vez mais barato comprar TV, eletrodoméstico, carro, assinatura de internet, móvel, roupa. Ficam cada vez mais salgados planos de saúde, escola, creche, médico, serviços pessoais. Tem sido assim nos últimos cinco anos. Não foi muito diferente no ano da inflação magrinha de 2017, pouco menos de 3%.

A inflação seria mais esquálida se não fossem alguns saltos acrobáticos de preços. O equivalente a mais da metade do IPCA de 2017 veio de planos de saúde, serviços pessoais, Petrobras e da conta de luz caseira.

O que o IBGE chama de “combustível doméstico”, basicamente gás e eletricidade, subiu mais de 15%. Planos de saúde, 13,5%. A mensalidade da escola de crianças aumentou 10%, assim como a gasolina e a taxa de água e esgoto. Os serviços bancários ficaram quase 9% mais caros.

Dá assunto para muita conversa essa inflação persistente de serviços, de saúde e educação e de preços administrados (pelo governo).

A estrela maior desse circo são os preços voadores dos planos de saúde, com alta de 85,5% desde 2012, seguidos de escola das crianças (mais de 80%), combustíveis domésticos (68,5%) e serviços pessoais (63%, grupo composto basicamente de salões de beleza, serviços bancários e empregados domésticos). Na outra ponta, o preço dos eletroeletrônicos regrediu 5%. O de móveis e roupas subiu menos que o IPCA, em torno de 25%; o do carro novo, 6%.
No período, a inflação média, o IPCA acumulado, foi de uns 44%. Os salários nominais acompanharam a inflação. Aumento real quase zero, pois.

Não há, claro, princípio segundo o qual os preços devam todos subir tanto quanto a média, ao contrário. Mas a lista de quem está na frente da corrida indica alguns suspeitos e, talvez, problemas na economia.

O que se passa com os preços dos planos de saúde? De creche e escola de ensino infantil, fundamental e médio? Que choque pode vir a causar a dolarização dos preços da Petrobras? Em parte, o poder da estatal petroleira no mercado de gasolina no médio prazo pode ser confrontado pela indústria do etanol. Mas esse não é bem o caso do diesel, para nem falar dos problemas do enrolado mercado de gás.
Preços de energia têm subido muito desde a explosão da crise, em 2015, mas se destacam menos em prazo mais longo. Em boa parte, recuperam-se dos tabelamentos de Dilma Rousseff, ficando próximos da média dos reajustes desde 2012. Ainda assim, a dolarização de derivados de petróleo e o salseiro do setor elétrico, ainda longe de solução, são fatores de risco.

Sem contar os preços de comida em casa, a inflação de 2017 ficou na meta de 4,5%, isso com desemprego nas alturas e queda de 9% do PIB per capita em três anos. Dá o que pensar. Por um lado, um repique modesto do preço da comida deve, claro, elevar a média, o IPCA inteiro. Por outro, é possível que o desemprego ainda alto e a inércia da inflação baixa do ano passado contenham os reajustes salariais, o que é “bom, mas é ruim”, como diria Tom Jobim, em termos mais pitorescos.

Por fim, o preço da comida foi um alívio, sim, em 2017. Mas, nos últimos cinco anos, ainda sobe mais do que a média dos salários. Na rua, ainda se ouve o povo dizer que “as coisas estão caras”.

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