Curiosamente, na Alemanha existe a mesma concentração em volta da nossa chanceler Angela Merkel. Ela governa desde novembro de 2005. No parlamentarismo, essa repetição do mandato por 12 anos é possível, pois o chefe de governo é eleito pela maioria no Parlamento, e não pelo voto direto. Merkel e o partido dela, a União Democrata Cristã (CDU), já governaram com apoio de vários partidos.
Desde as eleições, em setembro de 2017, aqui na Alemanha, toda a atenção gira em torno da questão se Angela Merkel vai continuar chanceler ou não. A primeira tentativa de formar um governo com os liberais e os verdes não deu certo. Agora ela está negociando com os social-democratas, partido com quem governou nos últimos quatro anos. Parece contraditório, mas é democrático: na hora de formar um novo governo a aparentemente poderosa chanceler Angela Merkel depende dos deputados.
O Congresso brasileiro parece ser igualmente poderoso. Já mostrou que pode derrubar presidentes e inviabilizar qualquer ação governamental. Desde o fim da ditadura militar, em 1985, e das primeiras eleições livres, em 1989, já afastou dois presidentes através do penoso procedimento de impeachment: Fernando Collor de Mello (1992) e Dilma Rousseff (2016).
Na sombra dos aparentemente todo-poderosos líderes políticos, os parlamentares na Alemanha e no Brasil parecem gozar de uma vida boa. Enquanto a mídia segue os passos dos possíveis chefes de governo, eles fazem ou não o trabalho deles sem serem cobrados da mesma maneira.
Na Alemanha, as eleições legislativas já foram. No Brasil, os eleitores ainda têm a chance de acompanhar e escolher os candidatos para o Congresso. Ainda dá para verificar se os candidatos têm ficha limpa ou não, se tem convicções políticas ou não.
O presidente do Brasil precisa do Congresso para governar. Sem uma maioria estável, nenhuma lei que o Executivo encaminhar vai ser aprovada. Sem deputados com ficha limpa, que estão mais preocupados em se reeleger para não perder o foro privilegiado do que em legislar projetos sociais, o Brasil não vai ter um projeto nacional.
Seja presidencialismo brasileiro ou parlamentarismo alemão: a fixação e a ansiedade por uma liderança política que chega para desfazer o nó e resolver os problemas políticos, como um salvador da pátria, não é nada mais do que uma ilusão.
Astrid Prange de Oliveira
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