A imprensa fotografa e filma o deputado nu com uma tatuagem no ombro em que ele diz temer, não se sabe o quê. Porque o deputado nu não teme nada, nem ninguém, ele pode fazer o que quiser.
Sua performance se completa com imagens pornográficas, que ele manipula no celular.
O máximo de decoro: veste-se uma tornozeleira no deputado nu.
Não importa que faltem tornozeleiras, o deputado nu tem prioridades, prerrogativas, foros especiais, fura-se a fila das tornozeleiras, manipula-se a tornozeleira do deputado nu.
Para o deputado nu, estuprar é um prêmio, as mulheres se dividem entre as que merecem e as que não merecem ser estupradas.
O deputado nu, enquanto canta e dança, quer manter seu escravo preso a um tronco e açoitado.
O deputado nu tirou a roupa com que se disfarçava de ministro, para participar da grande exposição.
As portas estão abertas e nenhum aviso proíbe as crianças de entrarem no salão central do grande Museu da Republica das Bananas.
É arte de vanguarda, futurista, venha ver o deputado nu com o bolso cheio de dinheiro.
Um manifesto para o deputado nu! Que pode ser escrito com trechos de outros manifestos. Como do manifesto “Basta, pum, basta” do poeta Almada Negreiros: o deputado nu é horroroso! Ou do manifesto antropófago: o que atropelava a verdade era a roupa.
Vê quem quer: to see or not to see, that’s the question.
Vista-se a “Maja desnuda”, “As três graças”, as odaliscas de Matisse, as banhistas de Renoir, as taitianas de Gauguin, proíba-se Picasso, Courbet, queime-se a obra de Victor Arruda, comprem panos pretos para cobrir milhares de obras de artistas de todas as épocas. Será muito mais barato do que vestir o deputado nu.
A nudez do deputado nu custa mais do que os vestidos luxuosos de princesas, do que os ternos importados do ex-governador nu. A nudez do deputado nu está estimada em pelo menos R$ 12 bilhões.
O banco não retira o patrocínio da exposição do deputado nu. Muito pelo contrário.
Enquanto isso, no país invadido e achincalhado, os artistas podem dizer: por acaso, não sabem que foi o som da lira de Anfião que construiu os muros de Tebas, que foram artistas como Niemeyer que construíram as paredes que cercam essa exibição de imoralidade, que, sem Bach, Deus seria menor?
A pedofilia, o estupro e todas essas monstruosidades não estão muito mais presentes entre aqueles que estão distantes dos museus e dos teatros e das exposições da arte de todos os tempos?
Então, que os artistas representem peças de teatro, façam performances, pintem, componham canções, dancem com seus corpos de nudez cristalina, não a nudez de terno e gravata da hipocrisia e do cinismo.
Como disse o poeta romântico alemão Novalis, “não há mais do que um templo no mundo e esse templo é o corpo humano”.
Querem nos afastar da arte que nos criou, que construiu nossas cidades e nossa civilização. Dá nisso: num Brasil que a cada dia reconhecemos menos.
Aderbal Freire-Filho
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